Elaboração, coleta e transcrição da entrevista: Alessandro de Moura.
[Falta revisão]
Alberto Eulálio nasceu em 4 de dezembro de 1944 em Igarapava,
interior do Estado de São Paulo. Foi criado em uma Usina de Açúcar, no
município de Igarapava, onde o pai trabalhou por 30 anos. Até os 20 anos
trabalhou com no campo, no corte de cana de açúcar. Fez várias tentativas de
fixar residência em São Paulo. Estabeleceu-se em Guarulhos em 1966, aos 22anos,
em junho desse mesmo ano foi admitido na Volkswagen de São Bernardo, fábrica
que contava no período, com cerca de 45.000 operários, trabalhou nela durante 8
anos na montagem de câmbio (ala 3 e ala 5), saiu dessa fábrica em 1974. Nesse
ano, no mês de outubro, empregou-se na Ford de São Bernardo, fábrica que, nesse
período, contava com cerca de 15.000 operários. Iniciou sua militância sindical
em 1978, integrou a comissão de mobilização das greves do ABC de 1979, foi
membro da diretoria do Sindicato do ABC de 1981, também foi membro da comissão
de fábrica da Ford.
Eu comecei a trabalhar com 8 anos na roça. Fiz... A gente
fazia até o 3º ano na fazenda e o 4º ano em diante você fazia na cidade, eram 6
km da fazenda até a cidade. E no 3º ano eu já trabalhava, com 9 anos na roça.
Com 12 anos eu fui fazer o 4º ano na cidade. Terminado o 4º ano aí tinha que fazer
admissão para entrar no ginásio naquela época. Então, eu chegava do colégio e
tinha que ir para a roça trabalhar, ajudar o meu pai. Nós éramos em 6, 7
irmãos... Ao todo nós somos em 9 irmãos,mas faleceu um na época, então a gente
tinha 7 irmãos, depois veio mais 2. Aí a gente ia trabalhar na roça para
ajudar. E eu fiquei nessa usina. Com 14 anos eu saí e vim para São Paulo tentar
um emprego aqui...
Mas o senhor ficou
trabalhando dentro da usina mesmo?
Não, trabalhava na lavoura, na fazenda da usina. Porque
tinha a usina mesmo e tinha as fazendas.
De cana...
De cana. Era a Fazenda Cana Brava, a fazenda que eu me
criei, Cana Brava e Vargem Alegre foram duas fazendas que eu morei, que eu fui
criado e... Mas tinham outras fazendas: São Geraldo, Bela Vista, Campestre, era
uma usina enorme, é ainda porque ela existe.
Era perto de onde?
Essa cidade é a última cidade, você indo pela Anhanguera,
chegou nessa cidade, Igarapava, você anda mais uns 5 km, tem a usina do lado
esquerdo e o Rio Grande e aí a primeira cidade já é a Delta, que é ali depois
da ponte, depois já é Uberaba a próxima cidade. É perto de Uberaba, de Igarapava
até lá [Uberaba] dá uma hora de ônibus...
Perto de Minas...
É perto, é divisa com Minas, é divisa. E eu fui criado nessa
fazenda e com 14 anos eu tinha parado de estudar porque eu tinha ido trabalhar
na roça, eu fiz os estudos primários e parei. Aí com 14 anos você tinha que
cortar cana, que é um serviço muito difícil, era triste. Eu tentei ir embora
para São Paulo. Vim para São Paulo, fiquei aqui 20 dias, não deu. Não conseguia
nada porque, de menor, você não ganhava para pagar o aluguel e a pensão, aí eu
voltei.
O senhor tinha
parente aqui em São Paulo?
Eu tinha uns amigos em Guarulhos e eu fui para lá, mas não
deu para ficar, mesmo com a boa vontade deles, mas não deu. Aí eu fui embora...
Aí com 16 anos... Eu voltei para a fazenda, trabalhei lá mais 2 anos na roça,
difícil, cortava cana de madrugada até a noite. Aí com 16 anos eu voltei de
novo para São Paulo, tentei de novo aqui. Não consegui, não dava... Por causa
da menor idade eles falaram que não dava... Aí eu voltei para a fazenda de
novo. Aí eu fiquei nessa fazenda até os 18 anos. Aos 18 anos eu vim para São
Paulo mas não fiquei, não consegui, não dava para ficar porque eu não tinha dinheiro...
E eu jogava bola na época, jogava até bem, jogava bola... Aí eu fui tentar
jogar bola, joguei bola, ia fazer teste. Fiz teste em Araxá, Vila Iara e jogava
té, o pessoal falava que eu jogava muito bem... E depois não dava certo... Aí
eu entrei em uma empresa chamada Camargo Correia, Camargo Correia não, acho que
era Gianeti Gouveia, era uma empresa de asfalto na época. Não era Camargo
Correia, acho que era Genésio Gouveia... Era uma empresa que... Ela pegava as
estradas para asfaltar, então a gente, eu trabalhei nessa empresa mais ou menos
6 meses, mas o serviço também era estúpido, os caras jogavam saco de cimento,
amassar... Era um serviço bruto... Eu tinha 18 anos... Aí, não dava mais, aí
depois eu entrei numa... Mesmo assim eu estava tentando jogar bola... Aí vim
para São Paulo de novo, aí não deu certo aí voltei de nova para a fazenda...
Fiquei na fazenda aos 19, com 19 anos e tentando jogar bola,
não deu certo. Aí fiquei na fazenda até os 19 anos cortando cana, cortei
cana... e aí arrumei uma namorada, aí você arruma namorada e você fica ali e
tal... Aí, meu pai pegou, sofreu um derrame. Ele tinha, acho que 58 anos, aí
ele mudou para uma cidade chamada Ituverava, que era uma cidade antes de Igarapava.
Aí lá em Ituverava eu consegui um emprego em uma empresa que estava construindo
uma fábrica, chamava-se Lufem, não sei se essa fábrica existe ainda, mas é em
Ituverava. Eu fiquei trabalhando lá 2 anos, nessa empresa... Aí, depois de 2
anos, eu nem era registrado nessa empresa. Numa firma... Não era fábrica,
estava construindo uma fábrica. Eu estava trabalhando na construção dessa
fábrica. E aí fiquei nessa empresa 2 anos. Aí eu falei, já estava com 22 anos e
eu tinha uma namorada também lá, aí trabalhava eu e um primo meu, aí falamos:
"Vamos para São Paulo? Vamos embora daqui? Vamos embora". Aí nós
fomos para São Paulo no dia 21 de abril...
O senhor e sua
namorada?
Não, eu e o meu primo, minha namorada ficou lá. Nós saímos
de Ituverava no dia 21 de abril de 1966. Aí nós viemos para cá, pra São Paulo,
nós fomos para Guarulhos. E a minha namorada e a namorada dele eram primas e eu
e ele éramos primos, ele já faleceu. Aí fomos para Guarulhos, em Guarulhos,
ficamos lá, procuramos emprego, já estávamos de maior, já tinha trazido uma
reservazinha melhor, aí ficamos lá em Guarulhos. Aí eu arrumei emprego na
Ibrape, que era empresa da Philips ali no Belenzinho, na Eduardo Botch,
trabalhei nessa Ibrape e ele veio aqui para Santo Amaro, porque tinha um
parente da namorada dele que trabalhava aqui na Light, antigamente... E eu
fiquei lá em Guarulhos trabalhando na Ibrape.
Aí eu vim passear aqui em Santo Amaro na casa de uma parente
da minha mãe, aí falou: "A Volkswagen vai pegar 2.000 pessoas, porque você
não vai para lá?". Eu falei: "Mas eu não conheço ninguém lá".
Falou: "Não, mas tem a fulana que é nossa prima e tal". Aí eu fui
para Santo André, chego lá: "Vem para cá que aqui vai pegar". Eu
fiquei na casa desse primo e ia na Volks todo dia, carteira [de trabalho]
branca, ninguém pegava... Porque a carteira que eu tinha na Ibrape tinha 3
meses, aí ia chegar na Volks com carteira branca, ia pegar 2.000 pessoas, mas
era uma fila enorme para entrar na Volkswagen. E eu, todo o dia eu estava lá.
Todo o dia eu estava lá era um dos primeiros da fila... Chegava lá: "Não".
Aí um dia o cara falou assim: "Todo o dia você está aqui né. Vai, entra
aí, vai". [risos]. Aí eu entrei. Tive a sorte de entrar na Volkswagen...
Em que ano que foi?
Em junho de 1966. Entrei na Volkswagen, e aí, aquela
empolgação, você entra naquela empresa grande, todo mundo tinha um sonho de
trabalhar numa Volkswagen, eu fiquei 8 anos nessa empresa, uma tristeza, um
sistema...
O senhor ficou até
1974?
Fui até 1974... Mas era uma coisa assim... Violenta, não
tinha...
Em qual seção o
senhor entrou?
Eu entrei na montagem de câmbio... E rapaz... você...
Era na Ala 8?
Era na Ala 3, depois foi para a Ala 5. Você conhece lá?
Eu fiz um trabalho lá
no mestrado, sobre a Volks...
Ala 3 era o câmbio, aí depois mudou para a Ala 5...
Eu fiz umas visitas
lá dentro... Aí os câmbios ficam passando pendurados em uma carretilha,
pendurados, dá a volta sobre...
Isso... o câmbio na Ala 5 fica no canto... E rapaz, mas foi
duro, nossa, você trabalha... Eu tinha vindo do interior né, e encarava o
serviço, e não era fácil para aguentar, era um trampo assim, que você não tinha
nem tempo para ir no banheiro, e uma repressão violenta. Aqueles alemães tudo
estragados, um com a perna fodida, outro sem braço, outro com olho tapado, um
bicho maluco. Não cumprimentavam ninguém, uns cara ignorantes para burro. E na
Volkswagen, quando eu entrei lá, meu horários era da 6 às 16:30, uma quinzena.
A outra quinzena era das 16:30 às 2:20.
Revezamento de
turno...
Isso. Então você, quando estava acostumando a trabalhar de
dia, o corpo, você passava para a noite, quando você estava acostumando à noite
você passava para o dia, aquilo era um sofrimento. E outra coisa, era muita
hora extra. Puta, era hora-extra assim, que você até... Sabe... E você tinha
que ir, não tinha conversa. Às vezes você entrava às 6 horas da tarde... 6
horas da manhã, 16:30 era hora de você ir embora, você ficava até ás 8 horas da
noite.
Nossa, 4 horas de
hora extra...
4 horas de hora-extra. Rapaz, eu ganhei muito dinheiro,
nossa, a gente ganhava dinheiro, e tem outra... A gente entrava 4 e meia da
tarde saía 2:20, a gente ficava até às 6 da manhã. E era obrigado a ficar, não
é que você queria ficar, é que era obrigado... Porque, meu... Você... E de
sábado... Chamava de sábado, chamava de domingo... Não, uma loucura...
E se você falasse: Eu
não quero ficar na hora extra!
Não, não importa.
Eles mandavam embora?
Mandava embora. Você tinha que fazer hora extra de qualquer
jeito. Se você não fizesse era demitido. E não tinha conversa, era trampo. Você
ia no banheiro, se você ficasse mais de 12, 15 minutos, tinha um guarda dentro
do banheiro olhando, se você, chegava um outro cara, ficava conversando, as
vezes falando alguma coisinha, o cara falava: "Oh, circulando!
Circulando!". Tinha guarda ali, um sistema, assim... Nazista mesmo. Uma
coisa brava.
O pessoal fala que
tinha policial do DOPS lá dentro, policial aposentado e eles colocavam dentro
da Volks para trabalhar na segurança...
Tinha, tinha. Muita gente "reformado", militar. Do
exército, reformado. Um sistema, muita gente reformada, que estava lá dentro...
Tinha gerente, ocupava um cargo, para não fazia nada, só para ganhar dinheiro e
ficar... E reprimir o trabalhador. Mas nossa, era uma loucura. Trabalhava
muito... Aí, em 1970 teve um incêndio na Ala 13, acabou com a Ala 13. Era uma
Ala nova, de pintura... Acabou com a Ala 13... Queimou todinha a Ala 13... E
aí, a gente via aquele monte de nego... Porque a Ala 13 era perto do... Era em
cima, e a enfermaria era embaixo... Nossa, a gente olhava para a enfermaria, um
corredor enorme, aquele monte de gente, tudo machucado, queimado, uns caras
saíram correndo... Foi uma coisa de louco. Segundo... Falaram que não teve
nenhuma morte, e a gente: "Poxa, como é que pode né? Um Inocêncio
daquele". Era ambulância....
Muita gente se
queimou?
Muita gente se queimou, muita gente se machucou... Mas foi
tudo abafado, ninguém... A imprensa, naquela época, o esquema era violento
né... Ninguém...
Tinham quantos
trabalhadores nessa época?
Oh rapaz, na Volks chegou a ter 45.000. Nessa época devia
ter uns 45.000 trabalhadores a Volks. Quando eu entrei, a Volks, a produção só
aumentava, aumentava. Por isso que dava muita hora extra, porque saia muita
peça fora, com problema, voltava para a gente desmontar e montar de novo, tinha
uma oficina. A nossa Ala era só de câmbio, tinha uma usinagem enorme, muito
grande a usinagem. E a gente não tinha tempo de fazer nada, não tinha tempo
para jogar uma bola, não tinha tempo para num sábado você sair, porque você
tinha que trabalhar, e não tinha conversa não, os caras colocavam assim,
ninguém... Você já sabia que no sábado: "Oh, sábado, sábado, sábado"
[era convocado pela chefia]. Era desse jeito.
Aí, quando foi em 1972 eu casei, com a minha mulher que
morava em Ituverava. Aí eu casei, aí em 1974 eu tive o meu primeiro filho. Aí
eu já estava... Eu estava meio maluco, sabe? Porque... Aquele nervosismo,
aquela coisa... Aí eu falei para a minha mulher, falei: "Olha, eu vou
pedir para mandar embora". Minha mulher assim: "Você está muito nervo
mesmo, não está bem. É bom você... Você sabe o que você faz". Aí eu pedi
para mandar embora, os caras não mandaram: "Pede a conta!". Rapaz, e
era difícil viu. Aí você parava de fazer hora extra, aí o cara vinha com
advertência, a Volkswagen tinha advertência, "Eu não assino advertência".
"Tá bom, mais um outro assina para você". O chefe assinava a
advertência para você. Era incrível, era uma loucura. Aí eu tinha um chefe, um
sergipano, chamava Juvenal, era uma cara assim.... Um pouco mais... Mais calmo,
era um cara que era mais amigo dos funcionários. Porque lá a chefia era tudo
ignorante, os caras... O cara olhava para você... E você não tinha tempo de
conversar com ninguém não, era uma peça, outra peça, aquela loucura. Uma
loucura. Aí, ele pegou e falou: "Não, colabora um pouco, você está... Não
quer fazer hora extra, os caras estão pegando no meu pé, qualquer hora aí eles
vão querer te mandar embora por justa causa, qualquer coisa que você fizer eles
podem fazer isso. Dá uns 3 meses aí que eu vou trabalhar par te mandar
embora". Uns 3 meses fazendo hora extra
e tal para ser mandado embora... Interessante... [risos].
Um dia, rapaz, eu peguei, porque lá, era lá em cima, sabe?
Lá de cima o chefe vê tudo aqui embaixo, é tudo de vidro. Então, lá o chefe só
fica lá em cima, só olhando o que está acontecendo aqui embaixo, interessante.
Aí um dia eu peguei, subi aquela... Subi as escadas, cheguei lá em cima, estava
o superintendente, era um tal de John Fresley, um alemãozão fortão, ele era
muito nervoso. Aí: "O que que você quer aqui?" Aí eu falei: "Eu
quero que você me manda embora!". Rapaz, esse cara: "Te mando embora
por justa causa, sai daqui". Aí eu
peguei, fiquei: "Não vou sair! Você vai me manda embora". Rapaz, e
ele era um cara fortão e eu baixinho, falei: "Puta que pariu, se eu pudesse
eu jogava esse cara lá embaixo". Aí esse feitor chegou: "Sai
daqui...". Aí eu desci. A peãozada ficava toda olhando... E eu estava...
Maluco... Aí esse meu chefe falou assim: "Vou pagar, vou te mandar
embora". Aí mais uns 3 meses me mandou embora. Ah... Foi um alívio. Saí da
Volks, 8 anos eu fiquei lá. Saí de lá em
junho... Eu tinha entrado... Fiquei 8 anos na Volkswagen...
O senhor saiu em
junho de 1974?
Foi, em 1974 quando eu saí. Aí eu fiquei desempregado.
E tinha muito
acidente dentro da Volks?
Nossa. O que é isso. Acidente era o que mais acontecia.
Acidente... A forma de trabalhar... Não tinha... Era uma loucura. Tinha um
tratamento térmico, assim, perto da nossa Ala, que o calor era 45º graus, era
uma... Não tinha CIPA, não tinha sindicato, não tinha nada... Nunca vi falar de
sindicato lá dentro. Nunca tinha ouvido falar de CIPA. Nem sabia o que era
CIPA. Eu lembro que o único jornal que eu li na Volkswagen, que entregava na
portaria era um jornal chamado La presa,
que era da FIESP. Eu lembro desse jornal até hoje, La presa, porque sindicato não tinha nada, nada...
O sindicato era Paulo
Vidal...
O Paulo Vidal, mas não tinha nada, do Sindicato você não
ouvia nada. Você ficava à mercê da empresa. Uma escravidão, escravidão mesmo.
O pessoal fala se umas
mobilizações na Volks nesse período...
Na minha Ala não. Na minha Ala era brincadeira...
O que dizem é que em 1973
e 1974 tiveram umas paralisações...
Eu estava lá e não vi. Na minha Ala não teve paralisação.
Não teve. Na minha Ala não. Se teve...
No período que o
senhor ficou, nesses 8 anos, o senhor nunca chegou a ver uma mobilização lá
dentro?
Não. Eu não vi nada. Nada. Não tinha Sindicato, não tinha
uma liderança, assim, dos trabalhadores dentro da fábrica. Não tinha isso. O
cara que era sócio do Sindicato...
Nem comissão
clandestina, grupo clandestino?
Não, não tinha. Na minha Ala não tinha nada disso.
Nem ouvia falar?
Nem ouvia falar. Não tinha, não tinha. Eu não sei... Dizem
que tinha dentro da fábrica um pessoal do Partidão na época, do PCB, dizem que
tinha, mas era muito, muito sigiloso. Ninguém conversava com você, você não via
nada diferente, você não via um boletim dentro da fábrica de algum grupo de
trabalhadores, você não via nada, era muito medo, sabe? Porque muita gente que
vinha do Norte entrava na Volks, muita gente... Naquela época, muita gente saiu
estourado, problema de audição, joelho, coluna, bico de papagaio, braço...
Até hoje né...
Até hoje, mas naquela época era pior. O cara ficava todo
estragado. Era triste, ainda bem que eu sai. Mas eu saí já com problema de
audição no ouvido... Que eu tenho até hoje nesse ouvido aqui... Não escuto
quase nada. Aí eu saí da FORD, da Volks, fiquei julho, agosto e setembro...
Eu acho que essa
greve de 1973/1974 foi dos ferramenteiros, fizeram operação tartaruga...
Não lembro.
Sabe onde tem isso?
Naquele livro do John Humprey? Conhece ele?
O John Humprey? O John Humprey foi meu amigo.
É o livro dele que
fala dessa greve de 1973/1974. Não greve, operação tartaruga dos
ferramenteiros...
Sei...
O livro chama Fazendo o milagre
Isso mesmo. Até tenho... O Hamprey foi para a Inglaterra,
ele que me levou. Ele fez um trabalho na FORD de São Bernardo, ele fez um
trabalho com o nosso grupo, particpou de várias atividades com a gente. É um
cara muito legal ele, mas isso eu não comentei com ele e nem sei se houve isso,
porque o livro dele eu nem lembro se eu li. E é grande o livro...
É grande...
Grande, muita coisa. Mas a gente conversava muito. Agora faz
muitos anos que eu nem vejo falar dele. Mas ele está na Inglaterra, eu fiquei
na casa dele. Fiquei na casa dele, fui para um encontro das FORDs na Inglaterra
e ele morava em Liverpool, aí eu fiquei e de lá, ele que me acompanhou em
vários lugares que eu estive lá, inclusive neste seminário que nós tínhamos,
das FORDs. Mas aí, quando eu saí da Volks, eu fiquei 3 meses parado e entrei na
FORD.
Direto...
Não, eu procurei emprego por aqui, eu tinha trabalhado na
Volkswagen, então eu tentei emprego por aqui...
Aqui em Santo Amaro?
Na região de Santo Amaro, mas aqui era Villares,
Carterpillar, era a MWM, era a Metal Leve, Monarkq, mas essas empresas, todas,
o meu salário era um pouco maior, que era a minha profissão que era montador.
Aí um dia eu fui lá na FORD, um amigo meu falou: "Vai na Ford, na Ford os
caras... As vezes, assim, eles não pegam não, mas as vezes dá certo". Aí
um dia eu passei, rapaz, eu... Era 10 e pouco [da manhã], eu tinha ido em uma
fábrica lá naquela Piratininga, ali na saída da Anchieta, tinha uma fábrica
ali, grande, não lembro o nome dela... Fui lá nessa fábrica, sai de lá era umas
10 horas, aí fui a pé até a Ford, a pé pela Anchieta. Aí cheguei lá, o porteiro
falou: "É lá embaixo, não sei se está atendendo não, já são quase 11
horas". Aí eu cheguei lá, perguntei para o cara: "Tá pegando?".
Ele olhou para mim assim: "O que que você faz? Você já trabalhou
onde". "Eu trabalhei na Volkswagen". "Está com a suar
carteira [de trabalho]?". Eu falei: "Estou". Ele pegou a minha
carteira, falou assim: "Dá um tempinho". Aí ele ligou para a área e
tal, aí ele falou assim: "Dá para você voltar aqui amanhã para você fazer
um teste?". Falei: "Dá, sem problemas". O nome dele era, nunca
esqueço, Antonino. Aí no outro dia cheguei lá cedo, aí ele falou: "Olha, é
em tal lugar, assim, assim". Aí eu fui lá na área, cambio também, montagem
de câmbio, aí eu fui lá, cheguei lá, o chefe, o feitor era Alberto: "Meu
nome é Alberto". Aí eu fiz os testes: "Está aprovado". Rapaz, aí
eu entrei na Ford. Nossa...
Isso em 1974...
1974. Outubro de 1974. 14 de outubro de 1974 entrei na Ford.
E aí, um horário só, das 7 às 17 da tarde. Nossa, aí... E era só de dia. Porque
lá era assim, quem trabalhava à noite era só à noite. Quem trabalhava de dia
era só de dia.
Não tinha essa coisa
de revezamento de turno...
Não, não tinha revezamento. Nossa, isso aí me ajudou muito,
você recuperar a saúde...
Tinham quantos
operários?
15 mil na Ford. 15 mil peão. Porque era feito tudo lá, sabe?
Eu que montava câmbio, todas as peças do câmbio era feito na usinagem. Todas as
peças do motor eram feitas na usinagem, entendeu? Era uma usinagem enorme,
muito grande. Fabricava o bloco, carrossel, primeira bobina, era aquela
tampinha do tramulador, tudo fabricava ali. Era uma usinagem enorme. e na Ford,
eu entrei das 7 às 17, mas também não era... Era, assim, um sistema diferente.
Porque que eu falou isso, porque na Ford tinha muita gente que veio da
Willis...
Quando se juntaram as
duas empresas...
Isso. A Ford era Willis Oberand do Brasil... A Willis, era
Willis Oberand do Brasil, a Ford, me parece que comprou, não sei, a Ford entrou
no lugar da Willis. Aí ficou Ford, mas com os funcionários da Willis Oberand...
Então na Willis eu não sei, mas me falaram que era um sistema de trabalho
diferente, tinha mais liberdade, essas coisas. E esses companheiros que ficaram,
eles fizeram várias paralisações na ferramentaria em 1974, 1975...
Eu entrevistei um
senhor que trabalhou lá, o Joaquim Miranda, não sei se o senhor conhece, foi
militante de Osasco...
Não. Ele deve ter trabalhado na Ford de Osasco...
Não, em São Bernardo...
Mas ele saiu em 1975.
1975? Porque em Osasco também tinha Ford...
Não, mas era aqui em
São Bernardo. Acho que no comecinho de 1975, a polícia pegou ele, ele era
militante, o DOPS pegou ele...
Na Ford?
Na Ford... Alguém
dedurou ele, que ele era militante de oposição e tudo... Aí pegaram ele...
E você tem o telefone dele?
Tenho... Hoje ele
está trabalhando no Sindicato, esses que trabalha com gás
Consigás, Liquigás...
É, um desses aí...
Ele está nesse sindicato em Osasco...
Nossa, eu precisava conhecer ele...
Ele é um dos
militantes de 1968 de Osasco, ele militou lá, participou da greve de 1968, na
Brás eixo, aí teve a perseguição lá, ele saiu e foi para São Bernardo. Aí ele
entrou na Willis aí ela se fundiu, se juntou com a Ford e ele ficou trabalhando
lá...
Porque a gente está fazendo vários trabalhos com a questão
das pessoas que foram da Ford e que sumiu na época da ditadura...
É... Ele foi
torturado e tudo... Eu te passo depois...
Depois eu quero... Então, o que acontece, aí entrei na Ford
rapaz, em 1974, você via já diferença, os caras falavam de sindicato, algum
peão já conversava com você diferente. Porque antigamente, acabava a questão
das fábricas, era futebol e novela, futebol e novela, meu, era difícil você
discutir política. Por exemplo, eu lia o Jornal da Tarde, naquela época da
guerra, no começo, eu sempre gostei de ler e eu sempre lia o Jornal da Tarde, a
guerra do Vietnã, eu era uma pessoa que mesmo não tendo com quem conversar
assim, a gente foi indo. Na Volkswagen tinha um companheiro que eu fui padrinho
do filho dele. Então a gente era amigo, mesmo fora da fábrica, na Ford, no
ônibus, eu conheci uns companheiros também que eu... Pedia para ler o jornal,
aí lia o jornal, mas o forte mesmo era a novela e o futebol, o Corinthians, o
Palmeiras, aquela loucura, né. E o peão não pensava na questão da organização,
porque o sindicato pouco fazia, né... Então, quando eu entrei na Ford, em 1975
não tinha nada, em 1976, em 1977 um companheiro falou: "Vamos no
sindicato?". Falei: "Ah, vamos lá, vamos lá". Aí eu fui em 1977
no Sindicato. Até foi o Paraíba quem me convidou, um amigo meu. Aí fomos no
Sindicato, tal, e ele começou a falar para mim, falou: "Oh, o meu pai, ele
tem umas terras que ele tem lá no Pára, lá". E os fazendeiros queriam
tomar as terras do pai dele e tal. Naquela época tinha o INCRA, me parece,
INCRA né... E ele me falava muito disso, e a gente gostava de conversar e aí eu
gostava muito de ler... E aí ele passou a ler o meu jornal também... Aí
começava a gente a falar de tudo...
Mas também tinha... A Ford não era também, assim... Sabe...
A Ford era a mesma coisa, na Ford assim: "Sábado, hora extra geral",
o cara punha lá no quadro de avisos: "Sábado, hora extra geral".
Então, se você não viesse, você também seria advertido. O sistema era quase o
mesmo. É que era uma organização americana e a Volks era uma organização alemã.
Mas o sistema também era violento. Porque não era aquela coisa que você tem...
Você tinha uma certa diferença da Volks...
Você não tinha que
fazer hora extra todos os dias? 4 h por dia...
Não, não. Não, não tinha. Era mais no sábado e às vezes no
domingo, mas meio de semana não tinha hora extra. Então no sábado e domingo era
duro. Às vezes você tinha um casamento para você ir no sábado, você tinha que
ir [trabalhar] até meio dia, na Ford... Não... Porque você: "Vai casar uma
sobrinha minha", ou "Vai casar um parente meu" e tal, o cara:
"Vem até meio dia".
Então a hora extra no
sábado era o dia inteiro?
Não... No sábado era o dia todo.
Mas pode fazer hora
extra o dia inteiro?
No sábado? Você fazia direto... Todo sábado...
Domingo também, as
vezes?
Domingo também.
O dia inteiro?
Até as 16:00. Eu lembro que teve um domingo que ia jogar o
Corinthians e o Internacional, eu sempre gostei de futebol, aí, eu falei para o
meu chefe: "Eu não vou vir não. Domingo não". Aí ele: "Porque
não?", "Eu vou assistir o jogo do Corinthians". Aí ele falou
assim: "Pô! Vem até o meio dia". [risos]. Rapaz, você vê... Aí chegou
meio dia eu fui embora. Aí o Corinthians perdeu. Em plena segunda feira ele
falou: "Valeu a pena você perder?", eu falei: "Valeu, o que não
valeu a pena foi ficar aqui até meio dia". Então, você não tinha tempo
para você passar com a família, sabe? Não tinha essas coisas. E as coisas foram
assim na Ford... Aí chega 1977, conheci esse companheiro meu, aí nós fomos no
Sindicato. Aí chegamos no sindicato tinha uma assembleia, mas tinha pouca
gente, não tinha muita gente. O Lula já era presidente, o Lula já era o
presidente, mais aí a gente foi, ficou meio ressabiado. Aí tinha um companheiro
que era da Ford, era diretor do Sindicato, que era o Jan-jão, está até com mal
de ausaimer hoje, muito doente. Tinha Jan-jão que era diretor do Sindicato, aí
em 1978 teve novas eleições do Sindicato, eu tinha ficado sócio do Sindicato nesse
ano. Aí foi eleita a diretoria do Lula e tinha, da Ford, tinha 4 diretores, que
era o Jan-jão o Venâncio, o Ratinho e um companheiro da noite, não me lembro o
nome dele... Laerte, era o Laerte... Não sei... Era o nome dele..
Então, a noite nós tínhamos 4 diretores, 3 de dia e 1 da
noite. E aí a gente já estava um pouco mais, assim, acostumado, sabe? Esse
Jan-jão era interessante, ele era um cara muito lento, muito devagar, até, os
caras falavam que ele foi multado na [rodovia] Anchieta porque ele estava devagar
demais, e era o maior sarro com esse cara, esse companheiro. E aí rapaz, ele
estava em uma máquina aqui [aponta uma distância de 2 metros], em vez de ele
vir no banheiro dele aqui, ele ia no banheiro, mas era no banheiro lá embaixo:
"Ah, deslo, vou conversar lá com os peão". Aí ele chegou em mim e
disse: "Você é sócio do Sindicato?", falei: "Rapaz, ainda
não". Ele falou assim: "Vamos ficar sócio do Sindicato?". Aí não
sei o que aconteceu que alguém chamou ele, ele foi embora. Mas aí tinha um
companheiro que era o Venâncio que era diretor do Sindicato, um cara bem...
Muito inteligente... Como eu lia o jornal, o Venâncio era um cara que, no P.A
onde o Venâncio trabalhava, todo mundo que trabalhava no P.A tinha que ter o
Ginásio, todo mundo, para entrar no P.A - Peças e Acessórios, e o Venâncio era
um cara que...
O senhor tinha o
Ginásio?
Não, não tinha, comecei... Eu fiz, parei... Depois eu tentei
fazer o Ginásio mas não consegui, não foi e fiquei nisso mesmo. Aí, o que
acontece, o Venâncio, ele ia muito na enfermaria e ele era diretor do Sindicato
novo naquela época... Aí eu trabalhava, assim, perto da entrada e ele passava
ali... Como ele me viu no Sindicato, ele passou, toda vez que ele passava ali
ele passou, toda a vez que ele ia subir ele passava e falava comigo: "E
aí?". Eu ficava só esperando: "Rapaz, os caras ficaram de me dar a
ficha para eu ficar sócio do Sindicato e não me deu. Você não pega a ficha e me
dá?". Fiquei sócio do Sindicato e fiquei muito amigo desse Venâncio que
era diretor do Sindicato. E aí a gente já tinha... Eu, por exemplo, comecei,
não sei se foi em 1979, que eu lia o jornal O
Pasquim, acho que foi em 1979, já existia o Pasquim? Já né... Acho que sim,
eu estava no Largo 13, aqui, e não tinha ônibus até o nosso bairro, o ônibus
saia do Largo 13. Aí eu estava em uma banca de jornal, tem uma banca no Largo
13 e aí eu pedi o Pasquim, tinha uma
charge muito interessante, aí eu comprei o jornal por causa daquela charge e aí
levei para fábrica. Aí, sabe, passava de um para outro, de um para outro, até
uma hora passou uma do Delfin Neto, eu não esqueço, que o Delfin Neto tinha
gastado não sei quanto de margarina por mês, umas coisas assim e aí todo
mundo... Sabe? E aí, com o Venâncio, a gente passou a ir mais no Sindicato,
formamos um grupo grande de companheiros que iam no sindicato fazer reuniões,
discutir os problemas...
Isso em 1978?
Em 1978. Aí veio a primeira greve por causa do Delfin Neto
que era Ministro do trabalho em 1974 e de um aumento que a gente não pegou esse
aumento. Aí, 34%. Nossa, aí o Sindicato levantou a moral da peãozada. Todo
mundo "Pô, e o aumento, o aumento" e assim, o aumento, você não
pegava aquilo, a inflação era 100%, 80%, tinha que você pegar 20% de aumento,
30% de aumento, bem mais baixo. E aí veio a primeira greve em 1978.
Então até 1978, na
campanha dos 34%, o Sindicato não era presente dentro das fábricas? Em 1974,
1975, 1976...
Não, não, não. Era mais escondido, o Sindicato não tinha
presença dentro da fábrica.
Nem na porta da
fábrica?
Não, não tinha. Não tinha. O Sindicato não tinha presença
mesmo. Aí, quando começou a ter presença foi...
Mas tinha os
diretores né?
Tinha, mas aí quando o Sindicato... Na greve de 1978 foi que
o Sindicato começou a ir na porta da fábrica, para explicar para a peãozada, eu
lembro que eles até tinham um fusquinha com
um auto-falante em cima e o pessoal começou a falar dessa perda de salário de
34%. Foi o que levantou a peãozada. Aí o Sindicato já ficou mais dentro da
fábrica, entendeu... O pessoal já começava a discutir o problema daquela perda.
Aí foi organizada a greve de 1978... Pouca gente acreditava que ia acontecer
aquela greve, sabe...
Nem o Sindicato...
Não dava para acreditar que ia parar. Aí a Scania pára. A
Scania parou...
O senhor também foi
pego de surpresa pela greve?
Não, até que não, porque eu participava. Eu ia no Sindicato,
tinha o Venâncio que eu conhecia muito, tinha o Jan-jão, então eu tinha clareza
que ia ter a greve, mas muita gente não acreditava. Meu, e quando...
Mas como o senhor
sabia que ia ter greve? Tinha um clima, alguma coisa? Reclamações do pessoal...
Sabe por que, porque assim, a raiva que o pessoal estava...
Eu tinha vindo da Volkswagen, entrei na Ford, poxa, e você só... Não é
respeitado. Você não pode faltar, doente tem que trabalhar, você esta fodido e
tem que ir trabalhar, sabe, o desrespeito era o mesmo. Então, o que acontece,
quando você vê que o peão está descontente e surge uma oportunidade dele dar o
troco, a greve foi assim, foi uma questão de por para fora aquilo, aquela coisa
que estava engasgada. Aí parou a fábrica, mas parou. Porque a fábrica, eram
lugares, assim, de 130 decibéis, 140, 110, era: bum! Mas quando você vê aquele
silêncio, cara, aquilo é uma coisa que você fica louco: "Puta que pariu,
silêncio total dentro da fábrica". Nós trabalhávamos no câmbio com a
usinagem do lado e as máquinas tudo paradas, nossa, aquilo é como se faz um
gol. Puta merda.
Em que mês foi a
paralisação da Ford?
Deixa eu ver...
Porque na Scania foi
no dia 12 de maio...
A nossa foi em maio também. A nossa foi dia 13 de maio ou 12
de maio também.
Ou no mesmo dia ou no
dia seguinte..
Eu acho que foi no mesmo dia. A Scania foi a primeira a
parar, aí a Scania voltou a trabalhar, o Lula foi lá a proposta passou. Na Ford
a proposta não passou. Nós não deixamos a proposta passar. A gente queria
manter a greve.
Quando o senhor
chegou na fábrica, no dia 12 ou 13, a fábrica já estava parada?
Não. Nós paramos...
O senhor estava na
turma que parou?
Nós estávamos, entramos de manhã e já entramos parando. E aí
ninguém ligou nada. Foi uma vitória, sentir lá... Só que estava ali é que
sente... O peão com aquela coragem de não ligar a máquina, aquele... Sabe...
Todo mundo de braço cruzado. Aquilo é uma vitória enorme. E aí a Scania voltou
a trabalhar, aceitou a proposta. Não sei se era 8%, quanto é que era, não
lembro. Aí a Ford não aceita a proposta. [risos]. E a Scania já tinha voltado.
Ai vai, e tal e tal, discute, a peãozada já estava mais... Porque a peãozada
estava com aquela fome, sabe... Vontade de lutar mesmo, por causa do desrespeito
que a empresa tinha com os funcionários, era uma loucura, uma falta de respeito
muito grande, sabe... O peão as vezes ele estava mal, não pegava produção
porque o chefe não dava, era mandado embora por causa de pouca coisa, sabe...
Não era respeitado... Você era mandado embora... Qualquer coisinha você... Dava
advertência... E era assim... Você... Quando a gente pára a fábrica, que vem
aquela coisa, puta merda, aí a Ford não voltava a trabalhar, aí, o que que o
Lula fez... O Lula entrou dentro da Ford e fez uma assembléia por área, ele fez
uma assembléia na estamparia, passou a proposta, estamparia e ferramentaria,
foi para a funilaria e pintura e passou a proposta, aí a ultima assembleia que
ele fez foi com a gente: Montagem de câmbio, motor e usinagem. Aí acabou com a
greve. A gente não ficou muito contente não. A gente queria... [risos]. Porque
a greve estava gostosa, a peãzada ficava jogando dominó, conversando daqui,
outro dali... E a pressão dos caras, eu lembro que desceu um cara...
Então vocês não
chegaram a fazer nenhuma assembleia conjunta de vocês? Não chegou a acontecer
nenhuma?
Não. Várias assembléias dentro da fábrica e teve uma
assembleia da categoria, mas foi pouca gente. A greve o Sindicato decretou e
não tinha lá uma assembléia enorme dentro do Sindicato. Era assembleia pequena.
Aí decretou a greve, não teve conversa.
Eu digo assim: Não
teve assembleia de vocês dentro da Ford nesse dia de paralisação?
Não, era assembleia
da categoria...
Vocês fizeram
paralisação, todo mundo ficou parado, aí as únicas assembleias que tiveram
foram essas em que o Lula ia de Ala em Ala?
Não, o sindicato acompanhava da porta da fábrica... O
Sindicato continuava e a gente parado dentro da fábrica... O Sindicato ia na
porta da fábrica com um fusquinha...
Não, eu digo assim:
Em Osasco, na greve de 1968, eles pararam e fizeram uma assembleia dentro da
fábrica, os operários pararam fizeram a assembleia e o sindicato foi lá...
Não fizemos não.
O que aconteceu na de
vocês foi que o Lula foi lá, em cada Ala e fez reunião com a Ala?
Por causa da proposta que já tinha passado na Scania.
Aí foi de Ala em Ala
fazendo essa reunião...
Fazendo uma assembléia com as áreas para... Defendendo a
proposta.
Mas não chegou a ter
uma que juntasse todo mundo da fábrica?
Não, não. Isso existia lá fora, mas muito pouco. Porque o
Sindicato não tinha esse costume de ir para a porta da fábrica. Veio pegando
esse costume de 1978 para cá quando o Lula de fato assumiu a presidência em
1978. Mas aí, essa greve, de 1978, foi quando o Sindicato criou a Tribuna
Metalúrgica, um jornalzinho do Sindicato e foi criado também o símbolo do João Ferrador, o João Ferrador dizendo:
"Hoje eu não tô bom!". Sabe, então isso foi mudando a cabeça da
peãozada. Aí terminou essa greve de 1978, ditadura ainda...
Conseguiram o
reajuste...
Tivemos um reajuste...
Foi vitorioso...
Foi vitorioso, nossa. Aí o peão, né...
E teve demissões em
1978 na Ford?
Não, não. Eu lembro que eles tinham um RH [Recursos Humanos]
da Ford lá, um advogado: "Se não voltar a trabalhar eu mando todo mundo
embora! Vão ligar as máquinas!", ele ficava falando sozinho no corredor...
E a peãozada todo mundo assim, olhando para a cara dele [e imitando ele]:
"Liga as máquinas, eu tô mandando". Nossa, o peão, rapaz... É uma
coisa assim que fala: "Caramba! Como é que pode né?". E aí, a gente
pegou moral. Você termina com uma greve, o Lula fazendo assembléia, a gente
votou. A Scania voltou antes da gente, eles tinha começado a greve, e nós
bancamos a greve, puts, o peão se orgulhava disso né. E aí já tinha... O
Sindicato já se manteve na porta da fábrica, já organizando para o ano
seguinte. Aí veio 1979, 1979...
Em 1978 o senhor
morava aqui em Santo Amaro?
Morava aqui...
E aqui também teve
muita mobilização nas fábricas? O senhor via?
Tinha viu, tinha... Eu não lembro se... Eu não lembro muito
bem de 1978. Em 1979 eu sei que houve.
Porque o pessoal fala
que em 1978, depois das greves do ABC, aqui também em Santo Amaro, nas Nações
Unidas, teve muita paralisação aqui...
Ah, teve, teve. Manifestação, teve, teve. Manifestação, mas
não por parte do Sindicato. Os trabalhadores e as comissões. O Sindicato nunca
foi do lado dos trabalhadores aqui... Então a gente se preparou para 1979...
Em 1978 teve uma
greve geral metalúrgica de São Paulo, não teve?
1978? Não. Em 1978 não.
É. Eles chegaram a
votar greve lá, uma greve geral.
Não. Não, em 1978 não. O Sindicato? Não, que isso... Em
1978?
Tem foto, documento e
tudo...
1978, greve geral do Sindicato na categoria?
É, em São Paulo.
Eu nunca ouvi falar nisso.
É verdade... E te
mostro depois...
Nossa. eu não lembro disso...
No Cine Piratininga
eles votaram
Do Sindicato? Da diretoria?
Do Sindicato. O
Sindicato foi obrigado a aprovar. Aprovou e no outro dia ele fez a negociação e
acabou com a greve, mas fez.
Não lembro... Não lembro. Só sei que a gente já começou a
trabalhar, aí já tinha a tribuna, o peão estava mais afoito, mais corajoso,
mais respeitado, mas mesmo assim a repressão da empresa continuava, a
empresa... Porque ela viu que ela começou a perder força né, mas aí que a
empresa endurece mesmo para valer. Mas em 1979, quando a gente parou as
fábricas, nossa, aí, foi fora da fábrica, aí foi coisa de louco. E aí a gente
parou já com mais organização, com mais vontade porque a gente tinha feito uma
greve, a gente estava mais disposto a ir pro pau meso, e aí foi 17 dias de
greve se eu não me engano, 17 ou 19 dias de greve. [Foram 15 dias de greve].
E não tinha comissão
clandestina ou grupo de fábrica dentro da Ford?
A gente tinha um grupo de companheiros que se reuniam,
porque tinha o Venâncio, o Ratinho e o Jan-Jão. Então a gente discutia muita
coisa no Sindicato, mas não era um grupo assim de fábrica que conhecido dentro
da empresa não, era de uma certa forma bem... Você para chamar um cara para uma
reunião você sabia: "Olha, você quer participar de uma reunião", era
bem escondido, sabe...
Era um grupo pequeno,
só vocês três?
Não, tinha mais gente. Tinha mais...
Aí vocês iam chamando
as pessoas?
Mas aí, que fazia isso era o Venâncio, que era o diretor do
Sindicato, mas a gente, nas seções, convidada um ou dois que pudesse ir, mas
bem sigiloso, porque não podia a gente trabalhar, era demissão na certa, não
tinha como. Aí veio 1979, a gente parou a categoria. Era uma categoria, aí
sim... Aí foi o primeiro embate, foi legal mesmo. E foi aí, começou as
assembleias na Vila Euclides. Aí você chamava o pessoal para ir para a
assembleia, a gente consegui lá, 100.000 na Vila Euclides, e aí o Lula cresceu
muito né, de 1978 para 1979 o Lula cresceu demais, a diretoria, o Sindicato,
eles pegaram força na categoria.. O Sindicato passou a ser um Sindicato
conhecido a nível de Brasil, né. Aí as coisas mudaram. O Sindicato... E aí,
essa greve foi terminada no Vila Euclides. Teve o afastamento da diretoria do
Sindicato e 1979. Houve intervenção do Ministério do Trabalho, que na época
atuava muito forte na... Lembro que era o Murilo Macedo o Ministro do
Trabalho... E o presidente era o Figueiredo, era uma época bem brava mesmo. E
aí teve o afastamento da diretoria do Sindicato, não chegou a prender, mas
afastou a diretoria do Sindicato. Aí eu lembro que na assembléia da Vila
Euclides, eu mesmo votei contra terminar com a greve. Nós votamos contrários.
Foi a trégua de 45
dias...
A trégua. Nós éramos contra. Muita gente era contra...
Muita gente era
contra?
Muita gente era contra, e o Lula defendeu e passou a
proposta e nossa...
Mas, por exemplo, o
senhor que era contra terminar a greve, não podia ir lá no microfone e fazer
uma fala defendendo a continuidade
Não, só o Sindicato podia falar, né...
E tinham correntes
políticas nesse período, fazendo trabalho?
Tinha PCdoB na época, eu lembro que tinha o PCdoB...
Tinha trotskistas?
Rapaz, devia ter, mas era bem, bem... Tinha MR8, o Alemão...
Tinha MR8, tinha PCdoB, não sei se a Convergência já existia naquela época...
Eu lembro que tinha um outro...
Tinha a AP...
Ah, tinha, mas você não sabia quem era da AP não. A Ação
Popular, mas tinha... Tinha mas a gente não sabia. Eu mesmo não conhecia
ninguém da AP. Pode ser que eu conheci né, participamos juntos, mas não se
identificava. Então... Quem falava na Diretoria do Sindicato, era a diretoria,
o Lula e o Djalma Bom que falavam, não sei se o Osmarzinho e o Alemão falaram
em 1979...
O Alemão fez a fala.
Ele fala que tem que aprovar a trégua para recuperar o Sindicato...
Não, ele tinha um discurso... Um puta de um discurso ele
tinha.
Ele estava no PCdoB?
Não, ele estava no MR8. E aí foi criado, nesse processo de
1979 para 1980 criou-se a comissão de salários, a comissão de mobilização e
participavam já vários companheiros, mas nisso você não tinha mais o Sindicato,
porque a diretoria estava afastada. Aí foi alugada uma casa quase que no centro
de São Bernardo mesmo, perto da cooperativa da Volks, aí a Tribuna fortaleceu
mais ainda, a Tribuna Metalúrgica dentro da fábrica. Todo dia tinha Tribuna,
Tribuna, Tribuna. E a diretoria afastada, mas continuou nas portas das
fábricas, toda a diretoria, estava tudo na porta da fábrica. Mesmo afastados os
companheiros continuaram e aí veio trabalhando, trabalhando, veio novembro, o
Ministério do Trabalho entregou o Sindicato para a diretoria, devolveu o
Sindicato para a diretoria, devolveu o Sindicato... O que aconteceu... Aí, a
diretoria, foi chamada uma assembleia da categoria, eu lembro como hoje, foram
vários companheiros da Ford nessa assembleia, aí, chegou lá o Lula colocou em
votação se a gente queria que continuasse ou não.
Deixa eu te perguntar
uma coisa antes. Porque que o senhor foi contra terminar a greve?
Ah, porque naquele, aquela coisa de você estar com a greve
forte, sabe, você vendo só parar. Porque o negócio da greve, é gostoso demais
rapaz e você não estava nem aí. Você vê a peãozada, aquela Vila Euclides com
100.000 peão, pô, sabe, aquele monte de gente igual a eu, mas muita gente
contra. Porque, a gente queria continuar com a greve porque a gente estava com
a garra né, aí o Lula colocou algumas coisas e tal, a gente não entendia... Eu,
por exemplo, eu não entendia. Eu entendia que a greve tinha que continuar para
conquistar um acordo melhor. Isso era o que a gente pensava. Então continuava
para melhorar a proposta.
E vocês sabiam que as
empresas estavam ganhando muito dinheiro...
Isso. E a inflação estava muito alta. Você pegava um aumenta
que na verdade não era nem um aumento. Era uma coisa muito pouca. Isso que
incentivava o pessoal porque era difícil. Isso a gente numa montadora, e o
companheiro que trabalhava em uma empresa pequena? Autopeças e tal que é
outra... Era triste...
E aí, chegou 1979, teve assembleia no Sindicato, novembro, o
Lula pediu um voto de confiança, todo mundo levantou a mão... Tinha uns 300
peão, todo mundo levantou a mão, deu voto de confiança na diretoria...
O Lula chorou...
Chorou... [risos]. O Lula é experto. [risos]. É... Ele é...
Rapaz, o bicho é uma fera. [risos]. Ele chorava e fazia você chorar também,
cabeça. [risos]. Aí rapaz, não sei se foi nessa assembléia que ele falou que
nós tínhamos que ter um partido político. Eu acho que foi em 1979, ou foi em
1980?
Foi em 1979.
Porque nessa assembleia, acho que ele falou assim: "Nós
temos que ter um partido político". Como ele metia o pau nos partidos
políticos na Vila Euclides, o pessoal: "Oh, oh, oh" [tom de vaia].
Aí: "Pô, mete o pau nos partidos políticos e vem com esse de criar um
partido político?", né. Aí ele falou assim: "Quero dizer pra vocês
uma coisa, vocês tem que entender, o movimento sindical não muda uma sociedade,
o que muda uma sociedade é o partido político. Então nós temos que ter
trabalhador no Congresso para defender as nossas propostas, porque tudo passa
pelo Congresso, não a gente ficar esperando que outros parlamentares que não
tem nada a ver com os trabalhadores defender propostas ou ir contra as nossas
propostas nos Congresso. Então nós temos que ter um partido da nossa classe, para
a classe trabalhadora, para no congresso a gente defender as nossas
propostas".
Ele falou muito bem, aí todo mundo, sabe... E aquilo mexe,
quando ele fala: "Sindicato não muda uma sociedade, o que muda a sociedade
é o partido político", já... Sabe... Muita gente vai falar depois:
"Um sindicato, ele briga para uma categoria e um partido representa todo
mundo, é isso que eu quero que vocês entendam". E aí você começa a
entender e falar: "É verdade, é só metalúrgico, tem o Sindicato dos Químicos...".
E ele falava muito sobre a questão de não ter autonomia e liberdade sindical.
Não tinha autonomia e liberdade sindical. Tudo era proibido, greve era
proibido, manifestação, tudo era proibido. E a gente estava quebrando aos
poucos... Então, quando ele colocou essa questão, que era um avanço para a
gente e tal: "E vamos se preparar para 1980". Puta, aí...
Como era viver sob a
ditadura na década de 1970?
É aquilo que eu falei, você não podia falar política, você
não podia falar nada, você, dentro da fábrica, fora da fábrica, você não tinha
liberdade. Porque você tinha medo. Aqueles companheiros que eram da esquerda,
que você via colado nas paredes, "os terroristas", né, aquilo
assustava. Todo mundo ficava assustado, porque, poxa! E isso muita gente achava
que era terrorista mesmo, que os caras eram bandidos mesmo, porque assaltava
banco e matava e morria tudo, ninguém... Eu, por exemplo, não entendia muito,
sabe, ficava: "Mas o que que está acontecendo?". Você não tinha
liberdade para fazer nada, não tinha uma manifestação, não tinha um partido
político que você podia defender, que você podia discutir, não tinha nada
disso. Então eu acho que a importância dessas lutas foi quando o peão passa a
entender, disse: "Olha, tudo é político", né, não importa, e o Lula
colocava isso, você faz política até dentro da sua casa. E aí você começava a
pensar, porra.
Dentro das greves de
1978, 1979 discutia-se a luta contra a ditadura, acabar com a ditadura?
Não, o peão, assim, queria desafiar: "É proibido fazer
greve? Pára!", Manifestação... Então, o peão começou a entender a questão
da ditadura foi de 1979, que ele começo a ver que... Quando afastou a
diretoria, pô, isso... Aí mexe né, porque os cara fala: "Porra, como é que
pode?". Ai, eu acho que em 1979 começou a discussão sobre a ditadura, que
foi aberta, me parece que foi quando houve a anistia [de 1979], aí isso fez com
que a peãozada fosse entendendo né, o sistema da ditadura, do capitalismo, essa
coisa toda. E aí, não era só o nosso Sindicato, porque aí tinha vários outros companheiros,
de outros sindicatos, de oposições, começou a falar, já começou também a querer
fazer luta, e esse sindicato, outro sindicato, não tinha sindicato e
participava com a gente, Sindicato de Santa Bárbara d'Oeste, Sindicato de
Monlevade que era de Minas, a Oposição Metalúrgica de Campinas, oposição
metalúrgica de São Paulo, tinha... Aí as coisas começam a crescer...
Aí entra em pauta a
luta contra a ditadura?
Aí começa, aí aparece. Aparece a questão de que você vive
num regime que você não tem liberdade, e a questão da autonomia e liberdade
sindical, porque é proibido fazer greve, você faz uma greve, que é proibida, e
o peão está desafiando, e o Sindicato, a ditadura. Aí que o pessoal começa ter
essa clareza da ditadura. E aí as muitas besteira que aquele João Figueiredo
falou também, e, foi interessante, porque o João Figueiredo tomou posse em
1980, não foi? E ele tomava posse no dia 15, ou no dia 12, nós paramos São
Bernardo no dia, acho que foi no dia 12 e ele tomava posse no dia 15. E aí nós
trabalhamos essa greve geral da categoria em 1980, foi... A peãozada estava
tudo já... Discutia tudo autonomia, discutia ditadura, discutia tudo. E aí
botamos várias pessoas de fora, inclusive nós fizemos até... Das palestras que
nós fizemos, conversando com algumas pessoas e tal. E dentro da fábrica também
o clima pegou, porque nisso já tinha a Tribuna Metalúrgica, você tinha peão que
estava... Saia muita coisa das greves, porque aí a imprensa publicava, em todos
os jornais, em todos os jornais saia lá o pessoal na Vila Euclides, aquela
coisa. E aquilo, querendo ou não, incentiva o peão né. Chega à noite Jornal
Nacional, greve, São Bernardo, começa aquela coisa toda né. E isso né, o peão
está vendo lá, a repercussão que está dando a greve, a repercussão que está
dando o movimento. E é pra mudar, para mudar mesmo.
O senhor chegou a
participar da comissão de salários, comissão de mobilização?
Participei da comissão de mobilização.
Em 1979 ou 1980?
Em 1979 começou, até 1980.
Como funcionava a
comissão de mobilização?
A comissão de mobilização era o seguinte, como é que estava
a greve, por exemplo, uma reunião do sindicato, tinha lá 300, 400 companheiros
da categoria, montadora, autopeças, aí a gente discutia como ia organizar a
greve de 1980. Aquele grupo, com a diretoria, discutia a greve de 1980 e a
gente fazia o debate, aí votava: "Vamos fazer assim, vamos fazer assado,
fora da fábrica, dentro da fábrica, vamos, como é que nós paramos?". Foi
em 1980, a gente parou a fábrica a meia noite, ficamos todo mundo... Eu mesmo
fiquei no Sindicato, e a gente: "Será que vai parar? Meia noite a peãozada
vai parar?". E a proposta era parar e vir para o Sindicato. Puta merda,
quando a gente estava, assim, no Sindicato, chegava noticia: "A Ford
parou", "Scania parou", aí chegava aquelas notícias, e os
trabalhadores vinham para o Sindicato, chegando pela Anchieta... Você, lá de
cima do prédio do Sindicato você via a Anchieta, aquele monte de carro vindo
assim. Sabe, aquilo... Nossa aquilo, foi assim, rapaz, você chegava a arrepiar...
De novo, nossa, eu... A gente veio embora, greve da categoria, no dia seguinte
o sindicato na porta de fábrica, aquela coisa toda. Meu, aí eu vou te contar,
foi tudo.
E eu lembro que o Lula, ele foi muito esperto, eu lembro que
ele falou assim na assembléia, uma das primeiras assembléias: "No ano
passado vocês falaram que a diretoria abriu as pernas, eu quero ver esse ano
que vai abrir as pernas, se é a diretoria ou se é vocês". Olha... Sabe...
[risos]. E isso mexe com o peão. Pro pau até com a lei... Eu não estava nem aí
não. E ai meu, foi 1980, foi uma das greves assim mais forte, mais gostosa. E
aí todo mundo para São Bernardo e a greve... Prendem a diretoria do Sindicato,
os caras continuam em greve, morre a mãe do Lula, o Lula vem no enterro da mãe
e volta para a cadeia de novo... Puta, isso vai mexendo, vai mexendo. E é claro
que, com a diretoria do Sindicato presa, com as empresas demitindo, a imprensa
toda...
Em 1979 tiveram
demissões na Ford?
Teve, teve demissões, mas na Ford eu não lembro se teve. Lá
não tinha aquelas demissões em massa, sabe... Pegava de uma seção, de outra
seção e assim, mandava embora. Demissão tinha direto. Com a greve teve bastante
demissão, porque naquela época das greves de 1979, 1980 tinha muita
rotatividade, sabe. As empresas mandavam embora para pegar um funcionário com
um salário mais baixo. Então existia, assim, muita rotatividade, uma das lutas
nossas foi por isso, contra a rotatividade, pelo emprego, e foi uma luta da
gente nessa luta que a gente veio. Porque não pensavam duas vezes para mandar
embora, mandava embora e pegava outro com salário mais baixo, e era assim que
funcionava. Então, em 1980 a gente, numa greve, ninguém se importava se fosse
demitido ou não, ninguém estava nem aí. Juntava aquela coisa, de tudo, porque
eles já tinham uma noção do que era a ditadura, já tinha uma noção de que, da
liberdade e autonomia sindical, já tinha uma noção de que: "pô fazer greve
dá cadeia". Aí prende o Lula, prende a diretoria, meu, aí que você fica
mais, mais raivoso né. Porque, poxa, são os representantes da gente, e é preso.
Porque que é preso? Eles não mataram, não roubaram, o que que fez de errado? E
isso revolta mais a peãozada ainda. Foi onde a greve continuou. Aí no 1º de
maio de 1980 foi um 1º de maio assim... Foi nessa época que a gente criou.. Em
1979 nós criamos o fundo de greve, o fundo de greve foi, assim, era uma espécie
de um sindicato paralelo, sabe. Onde você tinha a Tribuna Metalúrgica, que não
era rodada no Sindicato por causa do afastamento, o pessoal todo, teve ajuda...
Nós tivemos apoio da sociedade, teve apoio das categorias, de todas as
categorias. Também... Foi criado em 1979. Em 1980, por exemplo, o Fundo de
Greve já estava forte, quando cassou a diretoria, aí nós já tínhamos já...
Porque a greve já tinha passado já mais de 15 dias e o pessoal não tinha
recebido, o adiantamento, o pagamento. E aí, o que acontece... O peão começa a
fraquejar. E aí que veio o Fundo de Greve e a gente teve apoio de toda a
sociedade. O pessoal montava um fundo de greve la no Candaíba, montava aqui na
Zona Sul, montava na Zona Oeste, montava, e no interior de São Paulo. Então, a
mulheres daqui, em Santo Amaro mesmo, as mulheres chegavam a pedir nas casas,
comida, alimentos para o pessoal de São Bernardo. E aqui nessa Igreja do
Socorro, aí tinha um comitê do Aurélio Peres na época, na época era do PCdoB,
não era comitê dele, ele participava aqui, o pessoal do PCdoB, que era o
Aurélio, a Conceição e vários companheiros participavam nessa Igreja aqui. E aí
tinha um... Onde você trazia, que a Igreja pedia pra... Alimentos. Então a
gente, assim, por exemplo, quem não precisava, igual... Eu não precisava porque
minha mulher trabalhava na época e a gente não pegava porque não estava
necessitando, era para os caras que estavam necessitando mesmo. Mas aí você não
tinha dinheiro para ir para a assembleia porque estava duro, não tinha
pagamento. E era interessante porque quando a gente vinha de são Bernardo para
cá o motorista tinha conhecido a gente e ele falava: "Não, entra pela porta
da frente" e a gente, tudo isso a gente ganhou, porque a solidariedade das
categorias, o avanço de tudo isso.
Ah, eu não falei, mas em 1979 teve a morte do Santo Dias,
que também, foi uma morte onde, a Igreja praticamente foi onde criou uma força
muito grande na questão da nossa luta. E em São Bernardo do Campo nós tivemos o
apoio do Bispo chamado Dom Cláudio Hummes, que foi ele que abriu a porta da
Igreja para a gente, abriu a Igreja para a gente.
Para fazer
assembleias
Isso, para fazer assembleia, tudo, porque a gente estava
proibido de fazer assembleia na Vila Euclides. Na Vila Euclides só polícia,
cercou todinho. E aqueles helicópteros por cima e bomba em cima da gente,
cavalaria, era uma guerra, São Bernardo era uma guerra, foi uma coisa assim, de
louco. Mas o peão, ele estava, de uma certa forma, consciente. Estava disposto
a continuar com o movimento, quando prende o Lula, quando morre a mãe do Lula.
Aí, porque, assim, foi surgindo companheiros que foram falar no microfone, foi
surgindo o Nelson Companholo, foi surgindo o Rubão que não estava preso. Outros
companheiros que não foram presos foram assumindo, e o Batista que foi da
comissão de mobilização, que era do PCdoB inclusive esse batista, ele também
falava na assembleia. E aí, vinha também sindicalistas de fora que falavam
também em apoio à nossa categoria. E isso foi... A greve continuou, e quando a
gente viu que estava 41 dias em greve... Que estava difícil, não estava mais
fácil para você segurar. A greve terminou na Matriz de São Bernardo com umas
15.000 pessoas. Mas o 1º de maio de 1980, foi um primeiro de maio que ninguém
esquece, sabe. Porque a polícia tinha cercado a Igreja com corda. Então você
não podia ficar na Praça, a corda você não podia passar. E a polícia, aquele
batalhão de polícia. Eu lembro que tinha um Senador, Teotônio Vilela, ele
esteve nas nossas lutas em São Bernardo, e o povo estava disposto a invadir a
Praça, foi quando eu lembro que ele conversou...
Eles cercaram a Praça
para não aglomerar gente?
Para nós não fazermos a assembléia na Praça, em frente a
Igreja. Polícia, corda, polícia...
Vocês ficaram para
trás da corda?
Isso. Então aí foi juntando gente. Porque foi chegando
gente...
O foi cercando eles?
Isso. [gente] Do Estado todo. Aí o pessoal falou: "Oh,
vai sair morte aqui". Porque você não conseguia segurar a peãozada. Aí já
não tinha aquela liderança para segurar, ali, meu, era o povo. E aí, eu lembro
que o coronel chamava-se Arnaldo Braga, da polícia, um alemão estúpido pra
caramba, e foi aí que, a gente estava naquela aglomeração para invadir a Praça
na frente da Igreja, e aí, daí apouco os caras começaram a tirar a corda e ir
embora. Puts, mais uma vitória pra gente. A peãozada: "Aeee". A gente
cantava aquela música do Vandré, Caminhando
e cantando, sabe... Nossa. Teve uma passeata das mulheres, que teve 4.000
mulheres na passeata, quando os companheiros estavam presos, saiu da Igreja
Matriz e foi até o Paço Municipal.
Isso em 1980...
Em 1980, e o nosso hino era Caminhando e cantando, só isso. Nossa, tinha coisa assim, que mexia
sabe, até com os próprios PMs, você via que mexia com eles, mas os caras tinham
que cumprir o papel deles. E aí essa greve de 1980 foi onde vários caminhões de
alimentos que vinham para São Bernardo era parado nas estradas para não vir até
aqui. Vários ônibus que foi, que vinha para São Bernardo no 1º de maio foi
parado nas estradas para não vir. Sabe, essa coisa toda né, foi uma coisa
assim, de louco. E no primeiro de maio foi onde a gente, quando o Lula voltou,
aí ficou a intervenção no Sindicato e mesmo assim a diretoria ficou no fundo de
greve, na porta da fábrica, discutindo com os trabalhadores, era luta, luta,
luta e até 1981. Quando foi 1981 foi... Mas ai já tinha... Acabou a greve, foi
criado o PT, acabou a greve e aí já...
E esse clima de
derrubar a ditadura foi se fortalecendo?
Foi só crescendo, claro. Foi só crescendo. Aí você cria um
partido político contra o sistema, um partido contra o sistema, um partido que
vem dos trabalhadores, com uma liderança como o Lula. Então isso foi assim,
mais um ponto, porque, por exemplo, aqui em São Paulo você não tinha um
sindicato, mas tinha uma oposição, quando você cria um partido político, aí o
primeiro diretório do PT na capital foi aqui em Santo Amaro, do lado de Bonneville,
hoje é Lago São Sebastião depois de Bonneville, nós tínhamos uma deputada que
era, que esteve com a gente na luta da década de 1979 e 1980 que era a Irma
Passoni, morava aqui na região. O Aurélio Perez era do PCdoB, Deputado Federal.
E foi através da Irma Passoni... Tinha Airton Soares, deputado federal, Marco
Aurélio Ribeiro, deputado estadual, todos estiveram na nossa luta, vários
Padres. Aí quando se cria o PT a gente cria um diretório aqui em Santo Amaro, e
o PT, aqueles companheiros que queriam participar, iam participar do PT, então
era uma forma de você...
Em relação às correntes, os partidos, se
discutia luta pelo socialismo?
Olha, discutia. Correntes que discutiam a questão do
socialismo...
E os operários?
Nós também falávamos do socialismo, porque tinha uma outra
visão né... Não era forte a discussão do socialismo. Você não tinha um partido
político, você não tinha um partido, você tinha o MDB e o ARENA, então você não
tinha um partido para você discutir política partidária. Você discutia mais a
questão de greve, movimento sindical, essas coisas. Depois que veio o PT é que
veio as correntes para dentro do PT e pregando o socialismo... E as correntes
foram, de uma certa forma assim, porque já não era só operário, tinham os
companheiros que eram estudantes, professores, que tem uma proposta de discutir
o socialismo e tal. Mas aí já tinha o PT, 1981, a luta para filiar as pessoas
ao PT dentro da fábrica, fora da fábrica, criar núcleos do PT nas regiões.
Mas qual era o
significado de construir o PT?
A questão de construir o PT era para você mudar o país, era
mudar o país. Porque o sistema que a gente vivia era um sistema ditador, onde
você não tinha liberdade, e com o partido político você discutia política. Não
era só política sindical, não eram só questões... Discutia a questão nacional,
não era uma questão de estado, de São Bernardo, era uma questão nacional,
discutia tudo. E a questão do PT foi muito importante porque em mil novecentos
e oitenta e... Aí passou 1981, 1980, 1981, aí a gente pegou o Sindicato de
volta. Aí foi montada uma chapa para concorrer as eleições, criou-se uma junta
governativa, uma junta que, para essa junta, foi negociado, porque eu não sei
se ninguém queria vir para São Bernardo ser interventor, mas aí, tinha um
interventor, depois para fazer as eleições teve uma junta aí e essa junta foi
através de um companheiro que tinha sido presidente do Sindicato em 1968, que
era o Afonso Monteiro da Cruz, um companheiro que foi preso, torturado, tem uma
história e ele foi o coordenador dessa junta. Aí foi o Afonso, o Toninho, e
esse Toninho, ele foi da junta também, porque esse companheiro, ele foi eleito operário padrão, era da Brastemp, não
sei se você ouviu falar isso...
Não... Mas eu vi o
filme O homem que virou suco... Que é a história de um operário que vira
operário padrão e depois mata o patrão e enlouquece...
Mas aí, o operário padrão, o Toninho, quando ele vai para a
junta , todo mundo já fala "Aquele filho da puta"... [...]. Então,
quando em 1981, porque aí o Afonso abre o Sindicato para os trabalhadores,
porque o Afonso abriu o Sindicato, aí, organizar a chapa de oposição, não, a
chapa da diretoria do Sindicato. Mas aí tem um racha, a diretoria do Lula, o
Alemão e o Osmarzinho montam outra chapa...
O Alemão e o
Osmarzinho? Os dois do MR8?
Não, o Osmarzinho não era do MR8, o Alemão era do MR8, teve
vários companheiros também que era do PCdoB, teve muitos que não entrou na
chapa, mas teve alguém que entrou, não sei. Vários companheiros que estavam na
época, que eram ligados à diretoria, aí foi montada uma chapa: O Alemão,
Osmarzinho, o presidente e secretário geral Luis, montou-se uma chapa contra a
chapa do Lula. Na chapa do Lula quem encabeçava era o Jair Menegueli, que era
um companheiro da Ford, da ferramentaria. E nessa eleição eu fui para a
diretoria do Sindicato, da Ford era o Jair Menegueli, o Jan-Jão, o Bagaço e eu.
A gente foi para a diretoria do Sindicato em 1981.
Conseguiram vencer a
chapa do Alemão...
Foi noventa e tantos por cento, 97%, foi... Houve assim, uma
guerra, boletim em porta de fábrica, falando... Mas a nossa palavra de ordem
era "A luta continua", "A luta continua", o Djalma Bom era
um cara que nos ajudou... Nossa, o Djalma era.. Era porta de fábrica, era uma
guerra, mas nós, não tinha conversa não.
O Djalma estava nessa
chapa?
Não, o Djalma tinha sido cassado...
Ele estava só no
apoio...
É, e ele foi o companheiro que organizou a chapa da
diretoria de 1981. Porque o Lula foi correr o país em relação ao PT, o Djalma
ficou para organizar a chapa da diretoria. E mesmo, quando fui conversar com o
Djalma, ele perguntou: "A gente gostaria que você viesse", ele falava
para mim assim: "É perigoso, você pode perder o emprego, pode ser preso,
pode ter problema com a sua família. Então você tem 15 dias para dar o retorno,
conversa com a sua mulher". Foi assim com todo mundo, e aí a gente montou
uma chapa em 1981com o Jair Menegueli encabeçando a chapa. Nesse processo da
nossa chapa, a Ford mandou 400 companheiros embora, foi, em 1981. A gente
estava em processo eleitoral, como a nossa chapa já estava registrada, não
podia demitir nem eu, nem o Jair e nem o Bagaço.
Vocês três estavam na
lista para serem demitidos?
Não, não estava. A gente estava na chapa, registrou a chapa,
a gente podia fazer trabalho abertamente, só que a fábrica não aceitava diretor
do sindicato dentro da fábrica, não aceitava de jeito nenhum. Foi aí que nós
paramos a fábrica. Paramos a fábrica e o Menegueli, como encabeçador da chapa
foi o companheiro que era o candidato a presidência do Sindicato... E foi uma
greve onde a gente parou pela reintegração dos companheiros. Não conseguimos a
reintegração, não conseguimos, aí surgiu a proposta desse negócio de pacote,
sabe, dá 3 meses a mais, plano médico, não sei quanto a mais, 2 meses de
salário. E nós terminamos com essa greve mas não conseguimos a readmissão...
Quanto tempo durou?
Rapaz, eu não seu se foi 8 dias, não lembro, acho que foi 8
dias. Foi em 1981 quando a gente estava na chapa, foi no mês de julho se eu não
me engano, essa greve, julho de 1981. Acho que foi julho de 1981 ou no começo
de agosto.
Nesse período,
1978-1980, estavam acontecendo muitas mobilizações em São Paulo, vocês tinham
relação com a oposição de São Paulo?
Olha, eu, eu na verdade não tinha, eu tinha assim, relação
porque aí eu já participava do PT...
O senhor não conhecia
o Jorge Preto?
Não. Ele militava aqui em São Paulo e eu militava em São
Bernardo. Eu conheci o Chico Gordo, que aí, o Chico...
Ele era da
Convergência?
Não, o Chico foi da DS [Democracia Socialista], mas na época
eu não sei se ele era da DS, o pessoal fala que ele não era, mas um pessoal
fala que ele era. Aí eu conheci o Chico Gordo, porque a gente criou o, fundou o
diretório do PT aí tinham companheiros da DS, a Samira, a Silmara era do
trabalho, tinha a LIBELU na época também, aí a gente conhecia as companheiras
através do PT. Eu comecei a conhecer a Oposição foi numa greve que houve, um
arrastão, não sei que greve que foi, mas através do PT a gente conhecia o
Ronaldo, que era um companheiro que foi para Brasília, não sei para onde que
anda hoje, conheci o Vital Nolasco que era do PCdoB e que tinha um comitê aqui
em Santo Amaro... Mas o cara que eu conheci mesmo foi o Chico, dentro do PT. Aí
o Chico foi um dos companheiros forte da Oposição. Mas a minha luta mesmo era
em São Bernardo. Foi quando, nesse processo que a gente ganha o Sindicato, aí
vem, além do PT vem a eleição de 1982 que o Lula é candidato ao Governo do
Estado de São Paulo, e o Lula teve 1 milhão de meio de votos. Mas a gente cai
na ilusão né, comício, o Lula vinha prá cá, ia para lá, a gente ia atrás. Eu
lembro que uma vez aqui em Santo Amaro, o Lula começou a fazer um comício lá na
Pedreira, aí passamos pela Dutra, Grajaú, Vaz de Lima, fomos terminar as 10
horas lá na Biquina, lá na Zona Oeste, lá no fim do mundo às 10 horas da noite,
aí ele falava assim: "Pô, foi bom né, puta, foi bom né!". Todo
comício tinha umas 2.000 pessoas, "pô, quanto comício", aí terminamos
esse ultimo que nós fizemos, aí o Olavo falou assim: "Nós também
precisamos fazer o seguinte, porque a gente fala que tem tanto, mas todo o
pessoal que começou a acompanhar o primeiro comício, a grande maioria está aqui
ainda". [risos]. Aquele tesão de fazer o partido e a gente... Elegemos
naquela época 7 deputados, o Djalma Bom, Não sei se foi o Gush, não sei, acho
que não foi o Gush, foi o Djalma Bom, Genuíno, Não sei se a Bete Mendes, Airton
Soares, Irma Passoni, acho que a Irma elegemos também. Sei que elegemos 7
deputados, nossa, foi uma vitória.
Deixa eu perguntar
outra coisa antes, sobre a divergência entre o pessoal do ABC e da Oposição em
relação as comissões de fábrica... Em relação a Comissão de Fábrica o Delegado
Sindical. O senhor chegou a acompanhar essa discussão?
Não, veja bem, em São Bernardo na época da nossa discussão,
a gente, para nós o diretor do sindicato como o Ratinho e o Venâncio, que eram
delegados sindicais, a briga era pelo delegado sindical, sabe. Não era para,
não tinha outro nome, era delegado sindical, então aquele cara do Sindicato era
delegado sindical, só que a empresa não aceitava, nem como diretor do sindicato
e nem como delegado sindical, não existia isso.
O delegado sindical
era indicativo pelo sindicato ou pela eleição?
Ele fazia parte da diretoria do sindicato. Ele fazia parte
da diretoria, o ratinho era diretor do Sindicato na época do Lula. O Venâncio
era diretor do Sindicato na época do Lula. Só que pra gente, eles eram
diretores do sindicato, mas a luta do Sindicato era pelo delegado sindical. Que
seria um delegado sindical como ele, dentro da fábrica. Mas a empresa não aceitava.
Por isso que quanto teve as greves mandou o ratinho embora, mandou o Venâncio
embora, mandou o Luis Antônio embora, mandou todo mundo. E não se falava em
comissões de fábrica em São Bernardo, não se falava. Não tinha o debate sobre a
comissão de fábrica, tinha o debate sobre o delegado sindical. Foi quando a
gente parou essa fábrica [da Ford] que a gente, estava em um processo
eleitoral, que em uma conversa com a diretoria do Lula, não sei se foi o Lula
que falou, porque a gente não lutava, porque a gente sabia que nuca conquistava
a readmissão dos companheiros, por que a gente não brigava por uma comissão de
fábrica, né. E aí foi aonde houve a primeira passeata dentro das fábricas. A
gente organizava lá embaixo no P.A, vim subindo para a fábrica, aí sai pela
funilaria, a estamparia, que era num prédio só, a usinagem. E o pessoal do P.A
vir subindo a gente pega eles em uma rua e fomos pra frente do RH, RH, Relações
Trabalhistas... O P.A era Peças e Acessórios, aonde era a Ala do Venâncio, uma
área muito bem organizada por sinal, pessoal muito consciente.
E ai o Venâncio já não estava mais dentro da fábrica, mas aí
os companheiros saiam e vinham todo mundo, se reuniam, e aí, o pessoal da
funilaria, da pintura, da montagem saia todo mundo e acompanhava, nós íamos lá
para frente do Relações Trabalhistas, ficava lá, palavra de ordem, gritava... E
aí veio a questão da comissão de fábrica. Então, o que acontece, já não estava
mais a questão da readmissão que a gente sabia que não conquistava, então era a
comissão de fábrica: "Queremos conversar com a empresa" e não tinha,
a empresa não aceitava. Mas aí, a peãozada fazia aquela pressão para entrar e
para invadir o RH, e a empresa ficava lá em cima, assim, olhando em baixo, a
hierarquia era uma coisa de louco. Eu até falo né, aí, dava 11 horas a peãzada,
era hora do almoço, começava o almo+ço às 11 horas, aí tinha uns caras que iam
lá para fora, era sagrado, todo dia na hora do almoço a peãzada ia lá fora
tomar cachaça, era uma garrafa de pinga e 2 cervejas para 3, é... E o peão
voltava para a funilaria, voltava malucão, e era foda, os cara iam lá, tomavam
uma garrafa de pinga, 2 cervejas e vinham, e falávamos bandejão, sabe, passava
no bandejão, batia bandejão, e era assim... Então quando os caras iam lá fora
eles já voltavam para assembleia lá em cima, a gente estava acampado lá em
cima, aí os caras voltavam a 1 hora, aquele sol quente, a peãozada suava porque
tinha tomado umas cachaça... Mas aquela pressão, aí teve uma hora que um peão
lá, tinha uma caçamba de lixo, assim, o peão tocou fogo na caçamba. Aí a
empresa, lá de cima, falou para o Jair Menegueli, o Jair Meneguele estava lá em
cima, eu e o Jair, aí ele falou assim: "Pára, pára, pára, a gente aceita
conversar". Aí como é que vai fazer, o Jair falou: "Betão, vai lá
embaixo, chama os companheiros que querem participar de uma conversa com a
empresa". Aí foi onde eu desci lá em baixo para perguntar: "Olha, a
empresa aceitou conversar com os trabalhadores, quem quer participar da reunião
com a empresa?". Aí, Gilvan, Papagaio, Zé Preto, Zé Luís Apolinário,
Januário, José Carlos Brito, Rondini, Ermelino, sabe, depois, do prédio 4, o
Gilvan, da ferramentaria o Ermelino, da estamparia o Garapa, da funilaria o Zé
Preto, pintura o Papagaio, e foi assim. Assim nós reunimos, tinha o menino da
manutenção, aí, pela primeira vez, aí ele falava, então... Tinha 13
companheiros, aí vamos subir. Aí nós subimos, aquele salão lá em cima, a
empresa de um lado assim, a peãozada tudo do outro, aquele carpete, os peão com
os pés tudo cheio de graxa, nossa... Tinha um tal de Tim Maia, um cara que, mas
ele sujou todo, não hora que ele faz
assim [levanta-se] fica aquela roda, mas foi tão gostoso, nossa... Você de
frente a frente ali com o cara que era o bonzão mesmo, que gritava, que mandava,
e ali vinha conversar com você, sabe. Aí foi onde houve a primeira conquista da
comissão de fábrica, a conquista mesmo.
Porque em 1980 a Volkswagen tentou criar uma comissão de
fábrica, a gente estava no auge da greve, a Volkswagen vai lá e pega uns peão
lá e "Vai ser os representantes dos trabalhadores dentro da fábrica",
sabe, aí o sindicato vai para cima da Volkswagen, vai para a porta da fábrica e
fala que "esses caras não representam", desceu o cacete e aí
desmanchou a questão da comissão de fábrica que a Volks queria criar e foi aí
que veio essa questão nossa de 1981: Criar uma comissão de fábrica dos
trabalhadores. Entendeu... E eu não tinha, assim, a questão de oposição [a
criação de comissões de fábrica], mas aí também já tinha... Porque a gente se
tornou muito conhecido porque tinha as oposições, por exemplo, oposição
metalúrgica de Campinas, oposição metalúrgica dos químicos, sabe... Oposição de
Santo André, e aí a gente começou assim, São Bernardo apoiar as oposições de
Salto, que era só em Itu, não era Salto, era Itu e Salto, Sorocaba... O
Bolinha, que era um companheiro nosso, porreta, da comissão de mobilização, um
cara que era da Mercedez, uma cara que era, uma figura, estava na frente de
tudo, foi demitido na Sul e aí foi para Sorocaba, chegou lá ganhamos o
Sindicato com o Bolinha presidente. Então aí a gente, quando conquistamos a
comissão de fábrica da Ford houve até muitas críticas, porque eu como diretor
do Sindicato, eu era coordenador da comissão.
Ah,o senhor entrou na
comissão?
Não, não entrei na comissão. Eu era diretor do Sindicato
eleito pela categoria, no Estatuto, a comissão de fábrica, ela era eleita pelos
trabalhadores, mas tinha um coordenador e esse coordenador era o diretor do
Sindicato que era eu. E eu não podia ser votado na minha Ala porque eu tinha
sido votado na categoria. E no estatuto, quando a gente discutiu a questão da
coordenação ficar o diretor do Sindicato da noite e um do turno do dia, nossa
aí a gente levou porrada da Oposição de tudo quanto é jeito, sabe, nossa... A
Oposição aqui de São Paulo meteu o pau, porque "a comissão de fábrica não
era independente" e que não seio o que tem, mais querendo ou não, a
comissão de fábrica, ela foi uma das maiores conquistas que a categoria já teve,
que os trabalhadores já tiveram, querendo ou não. Uma comissão de fábrica
legalizada, com estabilidade, tempo livre, sabe... Então a gente negociou o
estatuto, foi tirada uma comissão com o Sindicato, mais uns 3 ou 4 companheiros
para discutir o estatuto da comissão, peão que era da fábrica mesmo, um foi o
Rondini, o outro foi o, acho que o Ermelino, junto o doutor Maurício e com o
Oswaldo Bargas que era o Secretário Geral do Sindicato para discutir o estatuto
da comissão. E aí, a partir daí a greve encerrou e a gente continuou negociando
o estatuto. E, mas nesse processo, da comissão provisória, não tinha ainda o
coordenador, o coordenador foi após as eleições, depois do estatuto, tudo
bonitinho, feito. E aí nós também tiramos a greve em 1981, nessa greve foi
demitido um companheiro que era da comissão provisória...
Essa greve foi antes
da demissão dos 400? Ou depois?
Não, foi depois, em novembro de 1981 quando estava a
comissão de fábrica provisória. E nessa greve foi demitido um companheiro que,
assim, a Tratores, era uma empresa dentro da Ford, e ela era independente da
automotiva, ela tinha uma outra gerência, um outro RH, tudo isso, e muita
gente... E aí, nós combinamos, era uma greve de protesto da... Porque assim,
quando os caras iam julgar o Lula, nós parávamos a fábrica, 1 hora, meia hora,
toda vez que ele ia ser julgado nós parávamos. Então, nessa greve nós tínhamos
combinado, no Sindicato, a comissão de fábrica mais um grupo de companheiros,
que, olha, para o Zé Carlos não parar a linha: "Deixa que o P.A [Peças e
acessórios] vem, que era perto da Tratores, o P.A vem e pára a linha, aí para a
Tratores, porque a Tratores é um regime muito mais fodido", porque tinha
um tal e Mazzoli lá que era um italiano mafioso, como tinha também um italiano
no PTO [Motor e Câmbio] que era outro também, sabe... Esse cara, antes da, de
1978, 1979, ele saia muito nas colunas sociais, no Diário da Noite, não sei se
você já ouviu falar, tinha um jornal chamado Diário da Noite, e esse Maricilene,
certo, toda semana ele saia na coluna social, sabe... Ali era um gerentão da
Usinagem, nossa, o cara... Quando o cara aparecia todo mundo tremia, até a
chefia, o cara mandava matar, o pessoal na fabrica ficava... E ele criava
faisão, né, então, nossa deus, a peãoada... Tinha peão que comprava o jornal
para ver o Maricilne na... ver, acho, sabe... Pô, e eu: "Oh meu",
né... Aí... E a Tratores era uma empresa que tinha esse italiano chamado
Mazoli, um ignorante, e aí o Zé Carlos pega, nós tínhamos combinado que o
pessoal do Peças e Acessórios [P.A] ia vim e parava a Tratores. O Zé Carlos vai
e desliga as máquinas, a linha, parou a fábrica, aí a empresa mandou ele
embora. Mandou embora, aí houve uma discussão ferrenha e aí teve até na
segunda, acho que foi na segunda feira, o Januário falou: "Vamos parar a
fábrica", e eu: "Não, vamos discutir primeiro, não vamos para fábrica
assim,vamos primeiro deixar o pessoal da Tratores se manifestar, eles vão ter
que saber que o Zé Carlos foi demitido". E o Januário pegou e: "Não,
vamos parar!", o Januário passou por cima de mim, ele parou a fábrica.
Tanto é que tem um livro "A tomada da Ford", tem um livro, um
livrinhozinho assim, e ele [José Carlos Aguiar Brito] escreveu com o
Tratemberg, o Tratemberg era um, não sei se você conheceu...
Era um professor, não
é...
Professor, ele era contra a nossa...
Esse livro é sobre
essa greve de 1981?
Sobre essa greve que foi feita, quando o Januário passou por
cima do Sindicato, passou por cima de mim... Paramos a fábrica, quando foi a
noite, tomamos a fábrica, ninguém vai sair da fábrica e aí a gente assumiu
tudo, a greve, o Sindicato assumiu e vamos, que vamos. Aí a gente parou a
fábrica e tomou a fábrica, uma molecada do SENAI, que tinha um grupo do SENAI,
até, eles eram todos ligados a convergência, era o Colombo, Sampá, Guarú, o Sampá
eu acho que não estava nessa época. Aí, essa molecada: "Vamos, vamos,
vamos!", tomou os portões, aí seguramos os portões da fábrica todinha, a
fábrica tinha 1, 2, 3, 4, 5, 6... Tinha 6 portões. Nós rendemos os portões
todinhos, fechamos a fábrica. E aí tinha uma ala assim, de saída dos
mensalistas e nessa saída a gente não deixava ninguém sair, e aí, houve uma
discussão violenta, porque a empresa não voltava atrás com o Zé Carlos, não
readmitia e a gente ia concentrar no bandeijão e a fábrica tomada, o Jair
Meneguele com 3 meses de presidência do Sindicato e foi nessa greve que a gente
ficou sabendo que a polícia podia invadir a fábrica...
Quanto tempo você
ficaram?
Começou de manhã e terminou à noite. Terminou era 1 hora da
manhã, a greve. Foi aí que o Jair Menegueli, nós tínhamos um fusquinha e um
alto-falante, quando o Menegueli defendeu o fim da greve, muita gente foi
contra, nossa, teve briga boa.
O pessoal queria
continuar?
Continuar a greve. Porque não ficou clara a questão do Zé
Carlos, não ficou claro. Aí terminou a greve, o pessoal dos portões não foi
avisado, puta, teve um rebu, sabe, um descontentamento muito grande na fábrica,
muito grande e chegou no dia seguinte, nossa, só porrada da peãozada. Quando o
Jair Menegueli estava terminando com a greve, aí um peão falou: "Como é
que fica o dia parado?". Aí o cara lá de cima do RH falou: " A gente
negocia Jair". Aí o Jair falou assim: "Nós vamos negociar",
puta, aí que foi que fodeu tudo, tinha um cara do RH lá em cima, depois parava
na boca do Jair Menegueli, puta merda, aí fodeu tudo, o companheiro Flores
Gomes que, ele era da comissão de fábrica, nossa rapaz, um negrão, o cara ficou
maluco. E aí, com o pessoal dos portões né: "Acabou a greve, acabou a
greve". Foi descontentamento geral, foi aí que a peãozada pediu uma
reunião com a comissão de fábrica e a diretoria do Sindicato, nós marcamos a
reunião.
Não conseguiu as
pautas?
Não...
Não conseguiu nada?
Não conseguiu. Aí houve uma reunião no Sindicato com m grupo
de companheiros. Aí chegou lá, mas rapaz, falou um monte para nós, a peãozada.
Falou o que tinha direito, chamou a atenção da diretoria, acabou, esculachou
com a gente E FALOU: "Olha gente, toda vez que vocês tiverem uma coisa
assim vocês conversem com a gente, tal", sabe, foi uma coisa assim dos
caras, correta, corretíssima, houve uma falha? Houve falha sim. Só que a
empresa tinha clareza, o Zé Carlos não voltava para a fábrica, não voltava, a
gente sabia que não voltava, porque ele desligou a máquina, parou a fábrica, e
não precisava ter feito isso, nós íamos parar, o pessoal vinha para parar a
fábrica, o P.A ia parar. Então, tem muita versão sobre isso, porque o Zé Carlos
deu uma versão de uma forma e eu falo que foi de outra, e eu estava no
processo, sabe, então...
Como que o Zé Carlos
fala?
Ele fala que o Sindicato, que o Sindicato "vendeu"
ele, sabe... Nada disso... O Zé Carlos cometeu uma falha em desligar a máquina,
a linha, que não precisava...
Ele estava em alguma
corrente?
Ele era de uma corrente, só que eu não sei de qual corrente que
era, mas ele era de uma corrente ligada
ao pessoal da O posição metalúrgica, ligado a uma corrente. O Zé Carlos, eu
nunca mais vi ele, saiu da Ford, nunca mias eu vi, depois ele foi mexer com o
pessoal da, acho que [do movimento] sem moradia, não sei. Mas eu falo para todo
mundo como foi que aconteceu as coisas, que ele não era para ter desligado a
linha, não precisava disso, inclusive eu estive até na ala conversando com
alguns companheiros que trabalhavam com ele, até um companheiro falou: "Betão,
ele não precisava ter feito aquilo", tinha o Wilson, inspetor que
trabalhava comigo: "Pô, eu falei Zé não faz isso, não faz isso, não faz
isso, mas ele fez Betão para mostrar que ele era uma liderança e foi uma coisa
errada que ele fez que não precisava. Então teve muita crítica, a Oposição
criticou muito a gente, houve muita critica, mas assim, eu sempre tive a minha
consciência tranquila...
E chegou em 1982, elegemos uma comissão de fábrica, a
primeira comissão de fábrica eleita pelos trabalhadores. Nesse processo de, da
{comissão] provisória, você discutiu como você fazia eleições, então nós
criamos 7 áreas de dia e 3 á noite, 20 companheiros na comissão de fábrica,
mais eu e o Bagaço como diretor do Sindicato. E cada companheiro teria 3
meios-turnos por semana. 3 meio-períodos por semana, livre, para conversar com
os trabalhadores. Então você vê, até 1979, 1980 a Ford não tinha nada, não
reconhecia delegado sindical, nem reconhecia nada. Em 1982 você consegue uma
comissão de fábrica legalizada, porque tem muita gente que é contra, acha que a
comissão de fábrica tem que ser clandestina... Eu sou contra, eu acho que, a
comissão de fábrica da Ford, por exemplo, ela foi legalizada, estatuto
registrado no DRT [Diretoria Regional do Trabalho], com o Sindicato, com os
trabalhadores votando a proposta. Então eu acho que você tem um grupo de
empresa, um grupo clandestino, a empresa fica sabendo e manda embora, você não
tem uma estabilidade. Então a gente em 1982 a gente, teve eleição, 10
distritos, 7 de dia e 3 à noite, 14 companheiros de dia, mais eu, era,
escolhemos que o companheiro ia ter os 3 meio-períodos: Segunda, quarta e sexta
depois do almoço para sair na área dele e conversar com os trabalhadores.
Entendeu, então foi aonde a gente teve uma fase muito gostosa... Por que?
Porque eleita essa comissão de fábrica, tanto a noite como de dia, a gente...
Aí vêm as reivindicações né, do pessoal, a gente que conversa mais, não tinha
CIPA, aí a gente descobre que CIPA, ela tem 1 ano de mandato, que a gente
precisava ter uma CIPA eleita pelos trabalhadores. Aí a gente começa a montar
uma eleição dos companheiros da CIPA e a gente pega um companheiro que se
destacou na Estamparia, o outro que se destacou na Funilaria, aqueles
companheiros que participaram mais ativamente. Aí a gente monta uma CIPA na
Ford e elege a nossa CIPA e aí já mais um outro avanço, você tem mais tantos
companheiros com estabilidade. E aí meu, eu acho que a gente teve a sorte né,
de ter participado dessa conquista...
Na CIPA tinham
quantas pessoas?
Rapaz, eu não lembro quanto não...
Era igual na
comissão, será? 20?
Acho que tinha mais. Não sei se a cada 50 pessoas, a cada
100 tem que ter um cipeiro, eu sei que assim, na estamparia nós tínhamos um
cipeiro, tem 3 estamparia, nas 3, nós tínhamos um cipeiro em cada área,
funilaria nós tínhamos cipeiro, na pintura tinha cipeiro, na montagem tinha
cipeiro, então, sabe, tinha cipeiro em todas as áreas, como tinha na comissão.
E, o cipeiro tinha uma estabilidade de 1 ano e foi aí que veio muita coisa boa
para os trabalhadores porque a questão de um processo coletivo, ninguém abria
porque tinha medo do cara ir no Sindicato entrar com um processo contra a
questão da insalubridade. E outras coisas que a gente, que o peão tinha direito
e que não procurava, a gente passou o debate para dentro da fábrica: "Oh,
vamos abrir um processo coletivo aqui na Usinagem pela questão do ruído, vamos
para estamparia, vamos para todas as áreas" e o peão ia na sala da
comissão, aí a gente já tinha... Antes a gente não tinha sala, a gente tinha
uma sala da comissão de fábrica dos trabalhadores, então na hora do almoço a
gente abria a sala, a peãozada passava lá e vários peão passava lá para assinar
o processo, o processo coletivo.
Isso em 1982?
No final de 1982.
Mas em 1982 já não
tinha o mesmo clima político de 1978, 1979, 1980?
Era diferente... Tinha as campanhas salariais. Aquele clima,
aquela euforia acabou, aí você já estava com um partido político, já tinha
sindicatos que você já tinha ganho. As oposições já fazia de sindicatos diferentes,
as greves expandiram para todo o país, então era diferente, o clima era outro,
aí já era um clima mais político. Então já não era aquele clima de só
reivindicar, só reivindicar, aí você já falava das 40 h. semanais, da reforma
agrária, você falava na autonomia e liberdade sindical, porque aí foi
esclarecendo os trabalhadores do que a gente pretendia. Já tinha Deputado
Federal no Congresso e a gente tinha informação de algumas propostas, o Djalma
Bom sempre prestou esclarecimento para a gente, então você tinha, além do
Sindicato, um partido político. E aí a gente foi crescendo, crescendo, veio a
questão da CUT, naquela época teve os CONCLAT, tinha um tal de ENTOES que eu
não lembro, nem lembro como é que era, mas teve o CONCLAT na praia grande que participou
5.000 trabalhadores. Não chegou em um acordo com os trabalhadores da época do
Joaquinzão, foi tirado uma coordenação, mas que nunca funcionou... A foi a
decisão de criar uma central única em 1983.
Nesse começo, quando
funda o PT em 1981, os operários... Porque hoje um operário não consegue
influenciar nos rumos do PT e nem da CUT, é mais difícil. Nessa época, os
operários influenciavam muito no PT?
Se influenciavam? Não, porque o PT estava começando, então,
o que que a gente fazia, era a filiação do partido. Até, o Bagaço que trabalha
a noite, que era diretor do Sindicato junto comigo, o Bagaço foi um dos caras
que mais filiou gente a noite no Partido. Então, a gente começou...
Tinha uma campanha
dentro das fábricas para filiar?
Não, não era campanha, porque o sindicato não podia fazer
uma campanha para filiar. Assim, por exemplo, eu era filiado ao PT e trabalhava
para filiar gente ao PT...
Sozinho...
Independente. E tinham outros companheiros também que
filiavam. Então todo mundo queria filiar companheiros no PT e isso a gente
fazia normalmente, e não era só na Ford. Muitos companheiros filiava na cidade,
na Volks, empresa pequena, foi uma, vários companheiros querendo filiar ao
partido...
Isso quer dizer que
os operários sentam que o PT era uma forma de mudar as coisas?
Claro...
Tinha esse
pensamento?
Tinha, cada pessoa, porque o Lula aí já era o Lula, já era o
Lula né, e cria um partido político, você é o presidente do Partido, e aí já
mostra para a peãzada porque que tem que fazer política né. O importante de
tudo isso foi você dizer: "Olha, tem que fazer política, não importa,
gostando ou não você tem que fazer política. Se filiar a um partido, não
importa se é o PT. A gente falava muito isso: "Não é que a gente quer que
você se filie ao PT, mas tem que ser filiado a um partido para você debater
dentro do partido, discutir política". Então, esse discurso saia,
entendeu, então houve tudo isso. Então isso fortaleceu muito, porque era uma
questão do peão. E aí fortaleceu nas lutas, não só, aí começou a ter PT no
Brasil inteiro, candidatos a Deputados e o Lula sai candidato a Governador em
1982, a gente faz um puta de uma campanha, todo mundo sabia que ele não se
elegia, mas quilo fez com que o Partido estabilizasse, crescesse cada vez mais.
Então nós pegamos esta fase de do movimento sindical, da comissão de fábrica de
um partido político.
O senhor chegou a
participar de reuniões de diretório do PT
Participava, eu o Chico Gordo, muitas, várias pessoas, tinha
um grupo aqui, o PT aqui era forte, foi o primeiro diretório aqui na capital de
São Paulo, foi aqui em Santo Amaro. O PT era forte, nossa. O Ítalo que foi
vereador, participava, o Chico Gordo, o Samira, Eduardo, Cláudio, muita gente
participava do PT.
O senhor chegou a se
candidatar?
Não, nunca. Nunca pensei nisso. O Chico gordo foi Deputado
Estadual, era um companheirão, é um companheirão, é um companheiro que, nossa,
a gente respeita muito, você entendeu... Ajudou a construir o Partido, perdeu o
emprego, catou lata, né, um companheirão. Então a gente fundou núcleo do PT,
aqui tinha núcleo dos metalúrgicos do PT. Na Ford a gente criou o núcleo de
metalúrgicos da Ford, entendeu, então tinha debates não só de movimento
sindical, mas do próprio partido. Você discutia o PT no núcleo dos metalúrgicos
da Ford, discutia o PT aqui no núcleo de metalúrgicos de Santo Amaro. É uma
forma de você ter um boletim de núcleo para você entregar nas fábricas, porque
o Sindicato aqui [dos Metalúrgicos de São Paulo] era contra construir, era
contra o PT e contra a organização dos trabalhadores, então era uma forma de
você entrar na categoria.
Esse Sindicato daqui
foi próximo ao PMDB não foi?
Olha, o Joaquinzão foi interventor em Guarulhos, ele era
direita e PMDB era tratado como esquerda, então, aqui, o Sindicato aqui defendia
mesmo era a ARENA, tinha gente do MDB, não vamos dizer que não tinha, mas o
Joaquinzão, nossa, ele era direita, direita e direita, entendeu, então, o
sindicato aqui sempre foi contra os trabalhadores. Hoje bagunçou tudo, misturou
todo mundo aí... Aí vem a CUT, que aí já não era mais só São Bernardo...
Isso em 1983...
Em 1983, em agosto de 1983. Aí você cria a CUT, constrói uma
central sindical nacional, com trabalhadores metalúrgicos, químicos, rurais..
Aí unificou mais, a
oposição de São Paulo, o pessoal de São Bernardo...
Claro. Tudo, tudo, todo trabalhador, sabe, ele... Aqui mesmo
[em Santo Amaro] começa, fica mais fácil fazer um trabalho na oposição porque
você ia com o material da Central Única dos Trabalhadores. A Oposição
representava a CUT, e o sindicato... Aí ganhamos o Sindicato dos químicos, um
puta de um Sindicato, o presidente foi o Galante, companheiro que participou da
fundação da CUT, Sorocaba que o presidente era o Bolinha, Campinas era o Durval
de Carvalho, e São José dos Campos tinha o Ari Russo um cara ligado ao MDB na
época, então, nós tivemos assim... E tinha os rurais né, às vezes você não
fala, mas os rurais tiveram uma participação importante na construção da CUT,
porque na nossa luta aqui, metalúrgicos, a gente falava muito em reforma
agrária, para a gente fazer com que os trabalhadores tivessem esse vínculo, que
o que eles produziam tinha que ser respeitado, pelo direito da reforma agrária,
essa onda foi muito forte e autonomia e liberdade sindical, que hoje ninguém
mais quer falar em autonomia e liberdade sindical, até a CUT pede imposto
sindical, né, pega o imposto e não fala de autonomia e liberdade sindical, né,
todo mundo hoje, tem sindicato que criou até uma outra forma de arrecadar, pega
lá o imposto não sei do que. Então, não é igual a nossa época. Porque na nossa
época a gente brigava por, era uma pauta única né, então você mandava ela:
Estabilidade no emprego, reforma agrária, contra o trabalho temporário, 40 h.
semanais, e autonomia e liberdade sindical. Então tinham poucos pontos, férias
em dobro, a gente falava muito em férias em dobro, e isso ai debatia muito.
Quando o senhor fala
"autonomia sindical" o senhor fala do Sindicato não atrelado ao
Estado?
Não atrelado ao Estado. Sindicato livre, né.
É a mesma proposta da
Oposição? A Oposição também defendia isso.
Não sei, só sei que a gente lutava por autonomia e liberdade
sindical.
Mas a CUT acabou não
levando essa luta até o final, não é?
Levou, levou até um certo tempo, depois foi que parou né...
Levou mais ou menos
até quando?
Ah, não lembro, mas a CUT levou essa proposta: Autonomia e
liberdade sindical, já faz anos que ninguém fala mais nisso, mas a CUT levou,
sabe, porque o movimento sindical em si, foi esfacelando, mas houve, nas nossas
lutas todas, a campanha pela liberdade sindical.
Quando o senhor acha
que começou enfraquecer a luta operária?
Eu acho assim, sabe,
que a luta, ela começou enfraquecer também, uma coisa por causa do Partido...
Porque foi muito pela
luta política?
É, e outra coisa, que você, o movimento sindical em si, ele
não avançou no sentido de quadros novos, você não tem. Por exemplo, dava gosto
você fazer luta falando da CUT, falando do PT, falando do Sindicato, né, e
depois você consegue, você consegue tudo, você esquece, não fala mais em greve,
tudo você negocia, negocia, negocia, os patrões se preparam, né, e aí os
sindicatos se enfraquecem, hoje por exemplo, sempre foi São Bernardo foi quem
puxou as lutas na verdade, o Sindicato de São Bernardo do Campo faz tempo que
não faz luta hoje. Então isso não
incentiva, aqui em São Paulo, a Oposição, a ultima chapa foi em 1993, a ultima
chapa, 1993 aí acabou, inclusive hoje os companheiros fazem um livro sobre a
memória da Oposição, né, mas será que não vai ter mais oposição aqui em São
Paulo? Como é que fica? Não é mesmo? Então eu acho assim, vai ter que ter uma
reviravolta, não é só na CUT, em todas as centrais. Você te hoje 11 centrais
sindicais, né, 11, como é que você faz uma...
Mas como assim, a
luta sindical enfraqueceu por causa do partido?
Porque, por exemplo, quando o partido estava na rua, estava
ma rua, você não discutia só o Partido, você criava, luta do PT, plenária do
PT, tinha convenção, "Vai ter uma plenária do PT", "Vai ter um
comício do PT", então você organizava dentro do PT, então você organizava
dentro da fábrica, o Partido levava gente pra caramba para o comício, a gente
mobilizava as fábricas, você ia para a porta de fábrica chamar o pessoal para o
comício, tinha um material para você chamar, o pessoal fazia comício na porta
de fábrica, lá no centro da cidade, comício... Onde fosse ter um comício o
pessoal chamava, você tinha essa coisa, o movimento sindical chamava para um
comício que era do PT, aí não tem mais, acabou. Não tem mais militância no PT,
nem em época de campanha. Você não vê um comício de massa, igual aquele
movimento sindical, aquele PT de massas não existe mais hoje. Não tem mais, é
por isso que eu falo, que enfraqueceu nesse sentido. Porque antes, todo
sindicato, o movimento sindical era um movimento sindical de massas, o PT era
um partido de massas, hoje não é mais. Não vê nada hoje, não tem.
E quando o senhor
acha que começou a ter as principais mudanças no PT?
Eu acho, assim, que foi na década de 1990 mesmo, sabe.
Porque, primeiro é que essa, as brigas internas, disputas, no movimento
sindical, como no partido, porque essas disputas internas só enfraquece o
Partido, só enfraquece. Pra você ver, o PSTU saiu do Partido, O PCB saiu da
CUT, saiu da CUT o PCB, PCdoB saiu da CUT, saiu todo mundo da CUT, todo mundo
formou as suas centrais, Conlutas... Então todo mundo assim, tem... Você vê
alguém fazer campanha para o PSD, na rua? Não vê. Vê do PT? Não vê. Então, na
época, que estava todo mundo na questão do PT, todo mundo fazia, ia para a rua,
depois que foi criados essas coisas, desses partidos, as centrais sindicais
desmembradas, acabou o movimento, acabou, PCdoB criou uma central, PSTU não sei
se tem uma central ou se é o Conlutas, quem mais que tem central, tem um monte
de central, centrais de condutores, centrais de... CGT, Força Sindical,
Corrente Sindical Classista que é do PCdoB, Intersindical, tem mais uma, mais,
muitas centrais... Como é que você fortalece? Não tem.
E agora as centrais
também recebem imposto...
Então, é uma forma de... E tem outra coisa, hoje, nós metiamos
o pau no Joaquinzão porque o Joaquinzão estava a 20 anos no sindicato, nossa, o
nosso discurso era esse, 20 anos no sindicato. Hoje você tem gente nossa na CUT
que está com 20 anos ou mais, na CUT ou nos sindicatos, está aí. Então, acabou
a formação de quadros, acabou os debates, acabou com os diretórios do PT. E a
central sindical hoje, por exemplo, a CUT, todo mundo, era uma central que
estava sempre fazendo alguma coisa, estava sempre na mídia, hoje você não vê
falar da CUT em lugar nenhum. Não tem um jornal da CUT para você entregar...
Aqui, você tinha o jornal da CUT estadual, que você ia nas porta de fábricas
aqui, de São Paulo, acabou com as CUT-regionais, que era também um instrumento
de organização.
E quando começou a
acabar os diretórios?
Diretórios existe, diretório existe, tanto em Santo Amaro
quanto na Capela, só que tem dono.
Estes de mobilização,
quando deixou de existir?
Ah, au acho que de 1990 para cá, foi enfraquecendo....
E as CUTs regionais?
As CUTs regionais? Ah, eu acho que foi em 1997...
De lá para cá foi
acabando?
Foi por aí. Porque tinha uma proposta da CUT...
Mas não é ruim para a
CUT e para o PT acabar com os diretórios?
O pior é que é ruim para os trabalhadores. Não é ruim para
eles, para a direção não é ruim, estão lá, ninguém enche o saco. Mas o que é,
quem perde com isso são os trabalhadores, sabe. Porque não participa, continua
hoje a mesma coisa. Se você pega as nossas reivindicações hoje, são as mesmas
de 1980, 40h. semanais, autonomia
sindical, que ninguém quer lutar por isso, reforma agrária que não foi feita
até hoje, nos temos 12 anos de governo e não conseguiu fazer reforma agrária.
Então as propostas do movimento sindical são as mesmas que a gente começou a
lutar em 1980, mudou o que? Mudou a questão da terceirização, porque antes era
o trabalho temporário, só mudou a questão da terceirização, que foi outra coisa
também que acabou com sindicato.
A terceirização?
Acabou com o sindicato. Se você, em qualquer lugar que você
vai hoje é terceiro. Você trabalha em uma montadora como mensalista, você abre
uma empresa e presta serviço.
O pessoal fala isso
da Volks, ela tem 24.000 operários, mas só 12.000 é operário da Volks, os
outros 12.000 são todos terceirizados.
A mesma coisa a Ford. A mesma coisa em todas as empresas,
não é só lá [no ABC], aqui [em Santo Amaro] também.
A gente fala assim,
como é que a Volks pode produzir tanto carro só com 12.000 operários? É que não
são só 12.000, são 24.000.
Mas acontece que esses 24.000 não é representado pelo
sindicato São Bernardo. Aí se você for ver na Volkswagen, tem uma época que
dentro da Volkswagen tinha 78 sindicatos, dentro da Volkswagen, tinha 78
categorias diferentes, que pertencia a outros sindicatos. Tem o sindicato dos
engenheiros que é estadual, tem o sindicato do, do que mais... Tudo, tudo,
tudo. O sindicato representante dos metalúrgicos representa os mensalistas, mas
não todos. Alguns mensalistas, grandes mensalistas pertencem a outras
categorias. Dentro da Volks deve ter hoje a mesma quantia de sindicatos que tinha,
tinha 78 a uns anos atrás. A Ford, deve ter lá dentro da Ford, uns 30
sindicatos, sabe, e que você nem sabe. Então essa terceirização enfraqueceu o
sindicato e muito, acabou com os sindicatos. Então tem muitos companheiros
hoje, que o cara é terceiro, ele se sente discriminado dentro da fábrica onde
ele trabalha, que a a própria peãozada que é da fábrica discrimina aquele
companheiro que não é, que ganha a metade.
Usa outro uniforme...
Isso. E hoje, tem muita gente hoje terceirizada que faz a
mesma função que faz um trabalhador da empresa em que ele trabalha. Então tudo
isso aí enfraqueceu o sindicato. Eu não sei viu, como é que o sindicato vai
fazer para se levantar, e a CUT é outro problema porque essa questão da
autonomia e liberdade sindical, não teria 11 centrais sindicais, não tinha, não
chagava a 4 central sindical, não chegava. Porque, existe tudo isso hoje, a que
pega menos aí é 2 milhões de imposto sindical, a que pega menos. A CUT, no ano
passado, ela pegou 46 milhões. A Força Sindical pegou 38 [milhões], sabe, e vai
caindo. Mas, meu, você passa a não administrar mais uma central, você passa a
administrar o dinheiro da central.
Que é mais importante
do que a luta...
Que é mais importante do que a luta. Então, dirigente
sindical, hoje ele não quer sair da entidade, não quer voltar para a fábrica,
ele não... E a gente criou ainda várias instâncias, nos metalúrgicos criamos a
Confederação dos Metalúrgicos, criamos a federação Estadual dos Metalúrgicos,
fomos criando várias instituições, mas representa o quê? Nada. Nada, porque na
verdade quem representa, o nosso sindicato por exemplo, dos Metalúrgicos, qual
é a influência que a CUT tem no Sindicato? Qual é a influência que uma
Confederação tem no Sindicato? Porque o sindicato tem a luta deles, e você não
consegue fazer uma organização a nível nacional com a Confederação.
Como pode, né?
Não tem como você fazer, sabe, então você cria a CUT
estadual, por exemplo, em quase todos os estados que você vai tem CUT estadual,
mas funciona? A CUT estadual aqui funciona? Quantos sindicato a CUT estadual
levou para trazer para a CUT [nacional], organizou? Está tudo bem, então todo
mundo se acomodou. Tudo tranquilo...
Como o senhor avaliou
o governo Lula, de 2002 a 2010? O senhor fez campanha nas eleições de 2002?
Fiz, claro, acho que o Lula foi um presidente que vai ficar
na história deste Brasil, foi ele, fez assim, nossa. Teve muitos avanço no
governo Lula, só que por outro lado..
Quais avanços o
senhor citaria?
Eu acho assim, por exemplo, no governo Lula baixou os juros,
os juros chegaram a quase 8%. A produtividade aumentou, venderam carro como
nunca venderam em outro governo como no governo do Lula. O peão teve aumento
real de salário. Mas também, por outro lado, os patrões nunca ganharam tanto
dinheiro. [risos].
É o Lula mesmo falou
isso né...
Como ganhou no governo lula, você entendeu. E por outro lado
também, que eu acho que é uma coisa que o movimento deixou a desejar, entendeu,
porque vai tudo para o Congresso, então, ao invés do movimento partir para a rua,
mesmo sendo o governo Lula... Meu, tem que fazer luta. Não esperar que o Lula,
sabe, vai resolver o problema da classe trabalhadora. Não é para resolver,
senão acaba com os sindicatos, acaba com centrais sindicais. Então, o Lula teve
muitos avanços, mas também os patrões ganharam muito dinheiro, principalmente
os bancos. Banqueiro e as montadora ganharam dinheiro que dá para ficar 10 anos
só vivendo com o lucro que eles tiveram, e agora, o que acontece? Mandam
embora, igual a Volkswagen. Então começa a gente sabia que, essa crise que
houve, a nível mundial, que o Lula falava que aqui era uma marolinha [risos],
essa crise teve aqui também. Só que, acho assim, o Lula, ele...
E a crise está
voltando agora né...
Está voltando agora e vai voltar pra valer. O Lula é o
seguinte, ele levantou a autoestima do brasileiro, sabe, porque ele estava
sempre com a autoestima em alta e é respeitado tanto pela oposição, pelo
capitalismo, sabe. O cara era respeitado, o cara conquistou isso. Então, foi 8
anos assim, de alegria. Agora está num processo difícil aí. E com isso o
movimento sindical enfraqueceu muito, acomodou, tudo é: "Ah, manda para o
governo, manda para o Congresso", meu, o congresso agora vai ferrar mais
ainda os trabalhadores, você entendeu....Vai chegar o momento que o Lula vai
ter que ir para a rua, vai ter que chegar o momento que ele vai ter que ir para
rua. Porque senão vai voltar de novo aquela fase difícil da época da ditadura.
Onde o peão não era respeitado, o peão era pisado, o peão era massacrado, vai
acontecer isso.
E quais foram os
pontos negativos do governo Lula?
Um dos pontos, assim... Foi não ter começado a reforma
agrária, autonomia e liberdade sindical não ter começado nesse governo do Lula,
e outras coisas que é muito difícil, que você vê, a questão da saúde, a questão
da educação, que são, tem que ser prioridade em qualquer governo. Qualquer
governo, a educação e a saúde, e aí também eu acho que a gente não avançou
tanto. Mas, temos que entender também que é um país aonde a 100 anos está na mão
do capital, dos latifúndios, dos grande empresários, banqueiros principalmente.
Não é em 12 anos que você muda isso. Não é, e hoje, a gente está aí hoje, por
exemplo, só reclama: A mídia, a mídia, a mídia, pô, vamos deixar de reclamar da
mídia. Então, pô, porque em 1980, na década de 1980, a mídia não era a nossa favor, ela era
contra, a gente fez movimento do mesmo jeito, agora ficar... O PT até hoje não
tem um jornal, até hoje o PT não tem um jornal, ou na banca de jornal, ou para
distribuir nos diretórios, o PT não tem isso.
E tem recurso...
Tem recurso, a CUT não tem um jornal, tem uma Revista Brasil aí, mas que a peãozada
não lê: "Ah, mas lá na Ford, na Ford lê", ah, na Ford, mas porra meu,
você quer... E as outras empresas? Então não podemos ver só a questão da
empresas organizadas, nós temos que ver é com as empresas que não tem
organização. Os professores até hoje não conseguiu nada, nada, fazem greve e
você não entende.
A gente toma é muita
porrada da polícia...
Isso. E você não
entende como é que o Alckmin ganha no primeiro turno. Porque se você analisar
bem, olha, os professores são da categoria mais fodida que existe, o ensino
aqui, nossa, é precário. O que eu acho,
você não tem um sindicato forte nos professores, um monte vota tudo no governo.
E também tem um outro detalhe que nós não soubemos explicar para a população em
geral, o que que é do Governo Federal, o que que é do governo Estadual e o que
que é do governo municipal. Porque tudo: "É o Governo Federal", falta
água: "A culpa é da Dilma", "É do Lula", "Falta
isso", "É do...", mas tem coisa que, por exemplo, a Sabesp é
problema do Estado, tem questão do ensino que é estadual, tem a questão que é
municipal. E isso nós não conseguimos fazer que a população entenda isso. Em
vez de... Puta, pô, vamos lutar aqui por propostas que favorece aqui no estado.
Eu estava na Sabesp, na Sabesp não, no Dante Pazzanese, lá, e eu estava lá e
tinha uma mulher falando: "Pô ainda bem que nós temos o... A única coisa
que nós temos aqui que serve é pegar remédio de graça, porque o resto é tudo
uma merda, porque o governo não faz nada, esse Lula aí fodeu aqui". Aí eu
falei: "Minha senhora, isso aqui não é do governo do Lula, é do governo
estadual", "Que nada!", eu falei: "É, aqui quem é
responsável é o governo estadual, não é o Lula, o Lula ajuda com dinheiro mas
não tem, não é ele o responsável". Sabe, para você explicar isso, nossa, é
difícil.
É que é um pessoal
que não participa da vida política, não milita...
Não participa d vida política, e vocês também como
professores, vocês não tem uma forma de explicar politicamente, a questão dos
20 anos de ditadura, vocês não falam disso na escola, então, a questão dos
professores, que seria a questão mais importante, que é a questão da cultura,
você fazer com que a criança, o jovem, ele vai conhecer realmente a história do
Brasil e fazer com que ele... É uma categoria que era para ter um grupos, as
pessoas, para ensinar.
Mas o material
didático que a gente usa é o grupo do Alckmin que faz...
É, mas a educação não é do Alckmin, é do Governo federal,
então essas coisas que a gente não consegue... A gente, poxa, se agente tem um
jornal da CUT ou do PT: "Olha, isso aqui é ligado ao governo do Estado, o
Governo Federal não tem nada a ver com
isso", e tal, sabe. Porque, não adianta, a ação dos professores, por
exemplo, com o professor não tem nada a ver, é tudo o governo Federal, a culpa
é dele, e o Haddad, ninguém sabe nada, o que que tem a prefeitura né, tem a
escola também, os professores, tem a questão do uniforme, o ensino também.
Então, eu acho que se o Paulo Freire estivesse vivo hoje, no governo do Lula,
teria avançado muito na questão da educação, sabe. Porque eu acompanhei muito a
visão do Paulo Freire, né, nossa, eu ficava, eu participei de uma, da
construção de um grupo, do Cajamar, que o Cajamar dava formação política...
O Instituto, ainda
existe, não existe?
Tem mais não funciona, falam: "É, vai, existe",
meu, mas na nossa época você pegava 10 peão da Ford, 10 da Volks, 10 da
Mercedez, 5 da empresinha, 5 da outra empresinha e levava para lá, ficava lá 2
dias, sábado e domingo, agente fez curso lá com o Apolônio de Carvalho, sabe,
várias pessoas foram lá pra dar curso. E você tem hoje um Olívio Dutra no Sul,
que não é aproveitado, você tem um Djalma Bom que foi Deputado Federal, foi
Deputado Estadual, vice prefeito de São Bernardo, da diretoria do Sindicato na
época do Lula, sabe, e têm outros, outros e outros por aí. A CUT quando tinha o
Avelino Ganzer, o movimento rural, ele tinha, ele era forte, hoje eu nem
sei quem é hoje o cara do rural na CUT. Nós fazíamos tanta greve no interior. E
também tem uma coisa, aí hoje o que acontece tudo é máquina, tudo é máquina,
você vai na Ford, você fica bobo, quem conheceu a Ford na minha época e vê a
Ford hoje, você não acredita, doido...
Tem quantos
trabalhadores hoje na Ford?
Trabalhadores? Entre a Caminhões e a Ford tem 3.000, duas
fábrica, fábrica de caminhão e carro. Para você ter uma idéia, fabricava só
carro na minha época e tinha 14.000 e fabricava 800 carros por dia, hoje fabrica
1.000 carros por dia. Então, por exemplo, sei lá, eu acho que foi enfraquecendo
o movimento e também, foi outra porrada, foi a questão da, a gente tem que
falar: A questão do muro de Berlim, muita gente, eu nunca preguei, mas muita
gente pregava a questão do socialismo, caiu o muro de Berlim, aí cai a questão
na Alemanha... E a crise que teve em 2008, nós copiávamos o Sindicato Alemão, o
Sindicato da Europa, não tem nada lá mais, lá tem é desemprego, então não tem
nada. No mundo hoje em si, ele, o movimento sindical, ele está fraco no mundo.
Não tem liderança, Não tem nada mais, a nossa luta hoje qual que é? è correr
atrás para não perder emprego, só isso. É difícil, mas é isso.
Mas e os movimentos
que teve no ano retrasado, do passe livre, o que o senhor achou?
Eu tive uma conversa com 7 garotos do Passe Livre, para
contar histórias para eles, eu fui lá, meu, não tem liderança, não aparece um
líder, os cara pararam por causa de 50 centavos de aumento dos ônibus e não
pára quando um Deputado Federal aumenta o salário dele em 9.000 reais por mês,
olha que falta de... Caramba, se esse povo vai para rua contra a corrupção no
Congresso.
O senhor chegou a ir
em algum ato?
Não, eu não acreditava, não acredito, sabe, não acredito
mesmo. Eu falava para o Reni, o Reni era um companheiro que é dono deste espaço
[local onde realizamos a entrevista], aqui ele tinha uma fabriquinha, ele é do
Psol, e ele estava todo entusiasmado, eu falei: "Reni, não se entusiasma
muito, porque isso aí não vai, não levanta a sociedade, porque o próprio passe
livre, tem peão que trabalha na fabriquinha que pega o vale transporte, aí ele
fala: "Vai acabar com o vale transporte?", porque passe livre você
não vai conseguir, isso vai conseguir através de projeto, passar pela Câmara e
a Câmara não vota nada, a Assembléia Legislativa hoje é uma coisa que não
funciona, quem é que sabe o que representa a assembleia legislativa? Então eu
acho que o passe livre, junta lá 5.000 pessoas, 10.000, mas naquela de 100.000
pessoas, o pessoal não tinha uma direção, então, quais os líderes que surgiram?
Você não tem organização, você tem que ter organização, você tem que ter um
líder, tem que organizar o que vai fazer, isso, aquilo. Então eu não boto fé,
eu fico fodido porque eu falo para você, eu sou aposentado, e eu tenho uma
reparação porque eu sou anistiado, mas se eu não tivesse essa reparação minha,
eu já falei, eu ia ser presidente da Associação dos aposentados lá em São
Bernardo, porque eu queria colocar na Paulista 2.000 aposentados. Uma coisa igual
esse aumento no Congresso, o cara que é aposentado pega 5%, os caras vota lá,
para eles lá, 9.000 de aumento. Meu, e você não consegue levar o povo para rua?
Eu acho que, assim, se você pega os aposentados e: "Vamos trabalhar com os
aposentados" e por os aposentados na rua, puta, a gente muda esse país.
Porque através do movimento sindical e do Congresso eu não acredito mais, não
acredito.
O senhor falou que
foi anistiado, então o senhor chegou a ser preso?
Não, fui cassado pela ditadura na greve de 1983, mas assim,
a gente foi na delegacia lá, respondeu ao processo, mas não cheguei a ficar
atrás das grades.
Toda a direção foi
cassada?
Cassou São Bernardo, cassou Santo André, cassou Paulínia...
Por causa da greve
geral?
Greve geral de 1983.
E essas greves gerais
da década de 1980, como o senhor avalia? Essa de 1983, como o senhor avaliou?
Foi a primeira greve geral que nós fizemos, depois de quase
40 anos, foi a primeira greve geral. Uma puta de uma vitória, né, você parou o
país em menos de 1 semana, organizou e a CUT, e paramos o país. Então, aquela
greve de 1983, foi uma greve que o povo parou, depois, tentamos, foram feitas
algumas greves gerais mas não chegou a ser igual a de 1983. e depois também
veio a questão das centrais. Se chamar a Força Sindical para fazer uma greve,
por que eles não chamam para fazer uma greve geral, já que eles são contra o
governo? Não é uma central sindical? Chama pra fazer uma greve geral, eles são
contra o governo. Porque a CUT não vai fazer uma greve geral contra o governo,
e eu acho que devia fazer. Não é contra o governo, você vai fazer uma greve
contra o Congresso, Senado, vai fazer uma greve no sentido,"vai, esquece o
governo", pela reforma agrária, então, tem muita coisa para se fazer, só
que não faz, fica uma central, a CUT. Sem a CUT não sai nada. E a CUT, parece
que o menino lá [o presidente], ele não sabe o poder que eles tem na mão, não
sabe. Entendeu? Eu acho que falta eles entenderem o poder que eles tem, pô.
Agora fica aí, aqui em São Paulo não tem uma oposição, acabaram as oposições,
estabilizou os sindicatos que é da CUT, a CUT é uma grande central e a Força
também, ela não tem interesse porque também uma grande central, e, por exemplo
o Babá também que não representa ninguém tem a central dele e por aí afora.
Então não dá. Eu, sinceramente, eu tenho 70 anos cara, mas eu tô tão
desanimado, sabe, eu queria ver tanta mudança, muita mudança.
É que o senhor participou
de vários movimentos importantes..
Então, eu, sinceramente, eu ando assim, rapaz, muito
chateado, sabe, porque, poxa vida, você vê a situação dos trabalhadores hoje,
sabendo que essa crise não vai acabar tão fácil. Quem viu o Obama falando ontem
no Congresso de Dallas lá, é... O problema não está só aqui no Brasil, está no
mundo, o mundo está com problema. Está, poxa, mas durante 100 anos, todo mundo
ganhou, todo mundo ganhou, o trabalhador só perde, eu até falo muito isso, qual
seria o salário mínimo hoje no Brasil, qual seria? No mínimo seria 3 mil reais,
no mínimo. Aí foi feito um acordo, a CUT fez um acordo lá no Governo do Lula,
acha que foi um avanço e eu acho que não avançou porra nenhuma. Meu, quem é que
consegue viver com 800 reais por mês? Vamos fazer o seguinte, pacto, em 2
meses, político nenhum, ninguém vai ganhar, vai receber mais do que 1.000 reais
por mês, ninguém, vê se alguém topa. Estava resolvida a questão da, de muitas
coisas, da saúde, da educação, muito dinheiro, não é mesmo... Antes a gente
falava só do FMI: "Fora daqui o FMI!", eu cansei de [risos]. Isso aí,
o pessoal da Convergência, nossa senhora...
Fazia muito ato...
Nossa, tudo era: "Fora o FMI", cansamos de falar
isso, aí o Lula pagou, mas tudo, não sei se pagou tudo, tem alguma coisa. Ninguém
fala mais sobre o FMI pô, a gente fica aí, eu não sei. Nossa, eu queria tanto
ter, sei lá, ser jovem, sabe, para, com a cabeça que eu tenho hoje para [faz
gesto de choque com as mãos], entendeu? Não dá para ficar desse jeito. E
aposentado você não consegue mexer, nós temos uma associação de anistiados,
todo mundo, sabe, tranquilo. Não é essa de se preocupar com os outros. Acho que
o aposentado hoje, se ele tivesse uma liderança, ele ganhava a sociedade com
manifestação, teria apoio e não teria aquelas corjas que tem lá no Congresso.
Essa questão da Petrobrás, está dito que isso não vem de hoje, aquele repórter
da globo que falava no jornal da noite, ele disse isso em 1996, que a Petrobrás
era um ninho de ladrões, aí ele foi processado pela Petrobrás nos EUA, tinha
uma multa de 100 milhões, você lembra? Já viu isso?
Não lembro...
E ele ficou sozinho, deu uma depressão e o cara morreu em 3
meses. Porque lá tem que pagar, lá nos EUA você tem que cumprir a pena, e ele
morreu, aquele cara, não lembro o nome dele, era um cara que falava bem
diferente... E essa crise, ela, essa roubalheira, isso vem desde 1970. Tanto é
que teve a matéria daquele Ricardo Semler na Folha de São Paulo, não sei se
você leu, o Ricardo Semler era dono da empresa Semco, tinha empresa aqui, tinha
em Diadema, tinha não sei onde, ele fez uma matéria dizendo que desde 1970 que
ele tenta entrar na Petrobrás, mas não entra porque ele não quer pagar propina.
Então isso aqui, sabe, eu acho que, assim, nós não soubemos passar isso para a
sociedade, por que que no Governo Dilma? Poxa, isso vem de longe, isso vem de...
então, as coisas, assim, eu acho que está claro que existe a direita, está aí e
a gente tem que fazer acordo com eles como foi na questão do Roberto Jeferson
lá com o José Dirceu, confiar no Roberto Jeferson? Né? Vamos também ter, pô, e
essas coisas todas que aconteceu que vai deixando você chateado, a luta não
avança...
E o senhor participou
das lutas das Diretas?
Participei, nossa, foi a melhor coisa que nós fizemos.
Nossa, parou, você ira para a rua, fazer aquela coisa que nós fizemos, a
questão do Collor, o Fora Collor, manifestação que você tinha aquela coisa, o
tesão de participar. Nossa, rapaz do céu, essa questão de manifestação de rua é
a única coisa que pode melhorar o país. Já tivemos a oportunidade de ter o
Lula, fez o que pôde, mais não podia fazer e faltou muita coisa. Então, tá na
cara que as coisas só mudam com o povo na rua, não vai mudar através de Congresso,
através de Presidente, através do Senado, não vai mudar, o poder é o povo na
rua. Voltou tudo o que era em 1978, é isso.
Eu acho que é isso,
tem alguma coisa que o senhor gostaria de falar e que eu não perguntei?
Não sei rapaz, não lembro, eu falei tanto... Falei demais.
Então a ultima
pergunta, o senhor acha que valeu a luta?
Ah, tá louco rapaz, valeu né. Eu faria tudo de novo. Não
teve coisa, olha sinceramente, eu estou chateado hoje, mas vivi uns momentos,
sabe, da mudança deste país, da organização da classe, nossa, para mim valeu a
pena e tenho orgulho de ter participado junto com o Lula, discutir com ele,
sabe, então isso, nossa, não tem dinheiro que paga isso. E você vê hoje, as
melhoras que tem hoje, se deve a nossas lutas, entendeu? E eu participei delas,
quer coisa melhor do que isso, por isso que eu falo muito para a minha filha:
"eu me orgulho, vocês podem se orgulhar de mim, eu não... Eu fiz muita
coisa, então se o Lula chegou lá, chegou não por causa do Lula, por causa do
nosso, do pessoal da Ford, todo mundo contribuiu com alguma coisinha: Os
metalúrgicos, os professores, não foi sozinho que ele chegou lá. Chegou lá
porque teve uma contribuição de cada um de nós, de todos os trabalhadores.
Então acho que a vitória nossa foi o projeto da gente ser concluído, que foi o
Lula chegar a presidência da república, esse era um projeto que a gente tinha e
chegamos, então, não tem coisa melhor do que isso. Eu só quero ter saúde para
viver mais tempo e continuar.